Malásia afirma que área dos destroços do MH17 "já foi comprometida"
Governo da Ucrânia acusa rebeldes separatistas de estarem a levar corpos para a morgue de Donetsk e de destruir provas. Combatentes pró-russos pedem a Moscovo que envie peritos.
As equipas da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) já chegaram à área do desastre, mas os combatentes pró-russos não facilitaram o seu acesso aos vários locais por onde estão espalhados os destroços do voo MH17 e os corpos das 298 pessoas que seguiam a bordo.
O jogo da troca de acusações prossegue sem tréguas, e as contradições surgem a cada minuto, o que dificulta cada vez mais a realização de uma investigação independente.
Num primeiro momento, os líderes separatistas (que lutam contra as forças ucranianas pela independência das regiões de Donetsk e Lugansk, no Leste da Ucrânia, e que controlam a zona onde o avião caiu) fizeram saber que iriam colaborar com os investigadores da OSCE, mas o relato do repórter da agência Reuters no local mostra que o processo será tudo menos simples.
Assim que chegaram ao local, as equipas da OSCE foram impedidas de ver os destroços, mas pouco depois a agência Reuters avançava que alguns deles tinham recebido autorização para investigar apenas um dos locais. Segundo a mesma agência, os rebeldes separatistas disseram aos elementos da OSCE que iriam informá-los sobre o resultado das suas próprias investigações.
Quase ao mesmo tempo, o Governo da Ucrânia acusava "os terroristas liderados pela Rússia" (a forma como as autoridades de Kiev se referem aos combatentes separatistas pró-russos) de estarem a "obstruir o início da investigação".
Pior do que isso – acusa o Governo ucraniano –, os rebeldes "levaram 38 corpos de vítimas para a morgue de Donetsk, onde 'especialistas' com sotaque russo disseram que iriam fazer autópsias".
"Os grupos terroristas estão também a tentar fazer chegar ao local equipamento de transporte para remover os destroços do avião para a Rússia", acusam as autoridades de Kiev.
O executivo liderado por Arseni Iatseniuk não tem dúvidas de que "os terroristas, com o apoio da Rússia, estão a tentar destruir as provas deste crime internacional", e apela à "comunidade internacional" que "obrigue a Rússia a retirar os seus terroristas da Ucrânia e a permitir que os especialistas ucranianos e internacionais realizem uma profunda investigação à tragédia".
Míssil foi disparado por russos, acusa Kiev
A Ucrânia acusou desde o primeiro momento os rebeldes separatistas de terem abatido o avião, mas agora diz ter provas de que os homens que activaram o sistema de mísseis são de nacionalidade russa.
"Temos provas conclusivas de que este acto terrorista foi perpetrado com a ajuda da Federação Russa. Temos a certeza de que a equipa que opera este sistema é composta por cidadãos russos", afirmou o responsável pelos serviços secretos do país, Vitali Nada.
O mesmo responsável exigiu a Moscovo que entregue a Kiev os nomes dos combatentes em causa, para que possam ser interrogados.
A Ucrânia acusa a Rússia de enviar equipamento e soldados para combaterem ao lado dos separatistas no Leste do país. O Presidente russo, Vladimir Putin, afirma que qualquer cidadão russo que se encontre nessas condições foi para a Ucrânia por iniciativa própria.
Rebeldes querem peritos russos
Do outro lado surgem acusações semelhantes em direcção a Kiev. O homem que se apresenta como primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, Alexander Borodai, desmentiu a acusação de que os seus homens estão a revolver a área do desastre, e acusou o Governo ucraniano de estar a atrasar a chegada ao local de especialistas. Apesar disso, não põe de parte a hipótese de começar a remover os corpos.
"Um corpo caiu mesmo em cima da cama de uma idosa. Ela pediu-nos por favor para levarmos o corpo dali. Mas não podemos mexer na área", disse Alexander Borodai em conferência de imprensa.
"Corpos de pessoas inocentes estão à mercê do calor. Reservamo-nos o direito de iniciar o processo de remoção dos corpos se este atraso continuar. Pedimos à Federação Russa que nos ajude e que envie peritos", disse Alexander Borodai, em conferência de imprensa.
O mesmo responsável disse que as caixas negras ainda não foram encontradas, depois de ter sido avançado na sexta-feira que ambas as caixas já tinha sido descobertas, e até levadas para a Rússia.
Malásia exige justiça
Perante tanta informação e contra-informação, o Governo da Malásia veio neste sábado dar como certo que "a integridade [da zona do desastre] foi comprometida", o que reduz cada vez mais a possibilidade de uma eventual investigação independente chegar mais perto das respostas que ainda estão por encontrar – já quase ninguém põe em causa que o Boeing 777 da Malaysia Airlines foi abatido por um míssil terra-ar, mas falta ainda determinar qual dos lados é o responsável.
"A integridade da área foi comprometida, e há indicações de que não foram preservados indícios fundamentais. As interferências no local do desastre põem em risco a investigação", afirmou o ministro dos Transportes da Malásia, Liow Tiong Lai, em conferência de imprensa.
O ministro disse também que "não impedir essas interferências constitui uma traição ao respeito pelas vidas destruídas" na queda do Boeing 777.
Para além dos especialistas da OSCE, neste sábado chegaram também à Ucrânia peritos enviados pela Malásia, que ainda não tiveram autorização para analisar os destroços, disse o ministro dos Transportes da Malásia.
Para Liow Tiong Lai, não se pode perder de vista o essencial: "Descobrir quem abateu o voo NH17. Queremos justiça."