Santo António, o santo popular que mereceu um museu novo

As obras de reabilitação custaram 450 mil euros e integram o museu no reestruturado Museu de Lisboa, que conta com outros quatro núcleos.

Foto
Até há gravações em que Maria Bethânia ou Carminho lêem textos sobre os milagres ou sermões do santo NUNO CORREIA

No largo de Santo António, este museu tem uma exposição permanente de cerca de 150 peças – a maioria são da colecção deste núcleo, outras são emprestadas por instituições como o Museu Nacional de Arte Antiga. A ideia é que as peças expostas vão rodando dentro do que é o discurso da exposição, para que se vá mostrando todo o espólio, explica, à entrada, Pedro Teotónio Pereira, coordenador do Museu Santo António.

Lá dentro, na primeira sala, há uma árvore geneológica e uma linha do tempo que mostra a biografia de Fernando de Bulhões que, ao tornar-se franciscano, havia de escolher o nome António. Fica também explicado o porquê de muitos lhe chamarem Santo António de Pádua: numa viagem de Marrocos para a Europa, o mau tempo enviou-o para a costa Siciliana, onde se juntou a outros franciscanos e acabou por ficar.

Nas quatro salas, o público encontra imagens – das mais valiosas às mais populares –, documentos vídeo do arquivo da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e até gravações em que as cantoras Maria Bethânia ou Carminho lêem textos sobre os milagres ou os sermões deste santo. Ao longo de toda a exposição, conta-se a história de como Santo António acabou por entrar na tradição da cidade onde nasceu, em 1191: faz parte das festas populares, é o seu santo casamenteiro e um dos seus símbolos, hoje em dia renovado em peças de design também presentes na exposição.

“Antes [das obras de reabilitação] a exposição não tinha um discurso e tinha muito poucos visitantes”, diz Pedro Teotónio Pereira sobre a necessidade de actualizar este museu inaugurado nos anos 1960. A sua colecção tem milhares de peças, desde imagens de grandes dimensões a pagelas e outros pequenos objectos coleccionáveis, que facilmente atingem um grande número entre os arquivos do museu.

As obras no núcleo antonino “foram obras de ampliação – a área do museu duplicou. Fez-se também um projecto museográfico, do atelier de design P-06, pensado para este espaço”, diz Gisela Miravent do gabinete da cultura da CML. A proposta é da autoria do atelier de arquitectura Site Specific, em parceria com o P-06 Atelier, e tem a assinatura dos arquitectos Patrícia Marques e Paulo Costa. Estas obras tiveram um custo de cerca de 450 mil euros e foram financiadas pelo Turismo de Portugal e pelo Programa de Investimento Prioritário em Acções de Reabilitação Urbana (PIPARU), disse ao PÚBLICO a vereadora com o pelouro da Cultura, Catarina Vaz Pinto. A renovação integra-se na reestruturação que está a ser feita no Museu da Cidade, que passará a ter o nome de Museu de Lisboa e será constituido por cinco núcleos: o Museu Santo António, o Museu Palácio Pimenta (no Campo Grande, actual Museu da Cidade), o Teatro Romano de Lisboa (com reabertura prevista para o próximo ano), o núcleo museológico da Casa dos Bicos (inaugurado a 14 de Julho) e o Torreão Poente (inaugurado a 13 de Julho e o único criado para integrar o Museu de Lisboa).

“A existência de vários núcleos já se verificava antes. O que é novo é esta consciencialização do público de que tudo faz parte do mesmo museu. É uma forma de conhecer a cidade, não só a partir de exposições, mas também a partir destes edifícios”, explica a vereadora, acrescentando que está a ser estudada a possibilidade de as galerias romanas na Baixa integrarem esta organização do Museu de Lisboa. Para isso, terá de ser viável o acesso permanente às ruínas e não apenas uma vez por ano, como agora acontece.

As obras que se finalizaram esta semana no edifício no largo de Santo António não foram, no entanto totalmente pacíficas. No final de Junho, causaram polémica entre os moradores por causa dos aparelhos de ar condicionado instalados por cima do frontão triangular – esta costumava ser a porta de entrada. A estreita fachada foi coberta com uma grelha metálica removível que tem escrito "Museu de Lisboa – Santo António" e que tapa os aparelhos de ar condicionado, mas também todo o frontão – visível apenas pelos buracos da grelha. Para além das questões estéticas, as preocupações dos moradores prendiam-se com a falta de segurança que este gradeamento causava – seria fácil aceder às varandas por cima do museu – e com o barulho provocado pelos aparelhos. Gisela Miravent disse ao PÚBLICO que esta polémica “está pacificada” e que os “moradores que visitaram o museu na quinta-feira gostaram muito”.

Sugerir correcção
Comentar