Kiev e separatistas acusam-se mutuamente pela queda do avião da Malásia no Leste da Ucrânia

Aparelho viajava de Amesterdão para Kuala Lumpur com 298 pessoas a bordo. Terá sido derrubado por armamento sofisticado, em terra ou no ar. Conselho de Segurança reúne-se esta sexta-feira

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O número de vítimas foi inicialmente quantificado em 295, mas horas depois foi corrigido por Huib Gorter, director da  transportadora aérea para a Europa, para 298: 283 passageiros e 15 tripulantes — o que faz deste o acidente aéreo com mais vítimas mortais na última década.

Os rebeldes anunciaram, ao princípio da noite, terem encontrado a caixa negra do avião e admitiram uma trégua de dois ou três dias para que seja possível o acesso ao local. Nas horas que se seguiram à queda do aparelho sucederam-se apelos nesse sentido.

O esclarecimento do que aconteceu com o avião pode ter efeitos importantes na evolução da crise político-militar ucraniana. O Conselho de Segurança reúne esta sexta-feira, a pedido do Reino Unido.

O Boeing 777, que tinha levantado de Amesterdão e se dirigia a Kuala Lumpur não chegou a entrar no espaço aéreo russo, como previsto na rota, e despenhou-se a escassas dezenas de quilómetros da fronteira com a Rússia, numa zona controlada por separatistas, onde têm ocorrido confrontos. O espaço aéreo no Leste da Ucrânia foi encerrado.

O voo MH17, que tinha partido da cidade holandesa às 13h15 (hora de Portugal Continental), perdeu contacto com o controlo aéreo ucraniano às 15h15, pouco antes da altura prevista para a entrada em espaço russo, segundo informação da companhia aérea malaia. Na altura em que desapareceu dos radares voava a dez mil metros de altitude.

A maior parte dos passageirs eram, segundo a Malaysia Airlines, holandeses - pelo menos 154.  Está também confirmada a morte de 27 australianos e 23 malaios, 11 indonésios, quatro alemães, quatro belgas, três filipinos e um canadiano. Informação anteriormente divulgada pelo ministério do Interior ucraniano indicava que seguiam a bordo pelo menos 23 norte-americanos e nove britânicos. O Governo francês confirmou que quatro dos passageiros eram franceses.

Ao início da noite ainda não tinha sido divulgada da nacionalidade de mais de quatro dezenas de passageiros. Todos os 15 tripulantes eram malaios.

Repórteres da Reuter e da AFP que se deslocaram ao local em que caiu, junto à aldeia de Grabovo, perto da cidade de Chakhtarsk, na região de Donetsk, viram destroços fumegantes e corpos espalhados pelo solo. Pedaços do avião espalharam-se por um raio de 15 quilómetros.

“Estava a trabalhar no campo com o meu tractor, quando ouvi o barulho de um avião, tiros e um estrondo”, disse Vladimir, identificado pela Reuters como testemunha. "Havia fumo grosso e escuro."

A primeira acusação de que o Boeing foi abatido partiu de um conselheiro do Ministério do Interior ucraniano. Anton Gerashchenko disse à agência Interfax-Ucrânia que foi derrubado por um míssil terra-ar Buk disparado por pró-russos que controlam a região. E escreveu no seu Facebook que todos os passageiros e tripulantes morreram.

O líder separatista Alexander Borodai não tardou a responsabilizar as forças governamentais pelo derrube do aparelho. “Aparentemente é um avião de passageiros, certamente abatido pela Força Aérea Ucraniana”, disse.

O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, começou por declarar que não se podia excluir a hipótese de o avião ter sido derrubado mas afastou o cenário ter sido abatido por militares governamentais. "As forças armadas ucranianas não fizeram disparos susceptíveis de atingir alvos no ar", declarou. Mais tarde foi taxativo ao dizer que a queda foi provocada por um “acto terrorista”.

A Reuters noticiou que o comandante militar dos rebeldes, Igor Strelkov, escreveu nas redes sociais, pouco antes de ser anunciada a queda do Boeing malaio, que as suas forças tinham derrubado, na mesma zona, um aparelho Antonov An-26.

Um site oficial dos separatistas divulgou, segundo a AFP, a informação de que o Boeing foi abatido por um avião de caça ucraniano que, em seguida, teria sido atingido pelas suas forças na zona.

Num contexto de pouca informação e muitas incertezas, Jonathan Beale, especialista de Defesa da BBC, explicou que, em caso de derrube a dez mil metros de altitude, o avião teria de ser atingido um míssil de longo alcance terra-ar, eventualmente guiado por radar. A outra possibilidade seria um ataque por um avião de caça com mísseis ar-ar.

A queda do voo MH17 levou diversas companhias aéreas a anunciarem a suspensão de voos no Leste da Ucrânia, caso da alemã Lufthansa, que continuará a voar para Kiev e Odessa. O Governo francês pediu às transportadoras nacionais para evitarem a Ucrânia. A norte-americana Delta Airlines, as russas Aeroflot e Transaero e a Turkish Airlines anunciaram que já deixaram de o fazer. 

Logo a seguir ao desastre, várias companhias aéreas comunicaram que iam alterar as rotas dos seus voos para evitar o espaço aéreo ucraniano.

O primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, manifestou-se chocado com a queda do avião e anunciou uma investigação. O que esta quinta-feira ocorreu com o voo MH17 é o segundo grande desastre da Malaysia Airlines em pouco mais de quatro meses. A 8 de Março, um Boeing que partiu de Kuala Lumpur com destino a Pequim, com 239 pessoas a bordo, desapareceu sem deixar rasto. Presume-se que o aparelho caiu no Oceano Índico. As investigações a esse caso prosseguem.

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