Adolescentes portugueses são incapazes de gerir finanças pessoais
Estudo da Universidade Portucalense alerta para a necessidade de investir na educação financeira nas escolas e na rotina familiar.
A autora do estudo, Eugénia Ribeiro, defende que os alunos devem ser formados desde a adolescência para as questões económicas e financeiras, “de forma a adquirirem uma relação saudável com o dinheiro, competências para poupar e planear as suas despesas, tomar decisões e fazer escolhas financeiras, sem grandes oscilações económicas ao longo das suas vidas”.
Em comunicado, Eugénia Ribeiro sublinha a necessidade de investir neste tipo de educação não só nos currículos escolares, mas também nas rotinas familiares: “Para se criar uma educação financeira eficaz é necessário aproximar os pais da escola, pois são eles que transmitem aos jovens os valores e hábitos de compra que começam em casa, e é preciso que o papel da escola passe por disponibilizar conceitos, como custos, poupança, características de um bom empreendedor”.
A autora do estudo, também professora do ensino secundário, advoga que para a instrução financeira se efectivar é preciso torná-la obrigatória, e acrescenta: “A forma mais segura de garantir que esse conhecimento é transmitido é a sua inclusão no currículo escolar”.
Também Érica Nascimento, directora da associação Junior Achievement Portugal (JAP), considera importante a inclusão de uma disciplina dedicada à educação financeira no currículo escolar. A responsável, para quem a conclusão do estudo da UPT não é uma surpresa, acredita que a medida teria impacto já que, afirma, “o comportamento financeiro ensina-se e aprende-se”.
A JAP é uma associação presente em mais de 120 países, nos quais se inclui Portugal desde 2005, que promove programas de literacia financeira – que vão desde um dia a um ano - para crianças e adolescentes a partir dos seis anos. “Pretendemos completar o currículo escolar”, explica Érica Nascimento.
A responsável refere a ausência de educação financeira no sistema nacional de ensino “que, quando existe, é demasiado teórica”, afirma. O tema está incluído nas linhas orientadoras da área curricular Educação para a Cidadania - disciplina autónoma nos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico –, mas para Érica Nascimento esta mostra-se insuficiente.
Nos jovens dos países do Norte da Europa, por exemplo, a consciência financeira “já lhes está no ADN”, mas em Portugal isso não acontece, afirma Érica Nascimento. Quando as equipas da associação (compostas por profissionais de empresas parceiras) chegam às escolas, percebem que os jovens têm “fracos conhecimentos financeiros”. A JAP tenta contrariar a iliteracia financeira com a implementação de programas que obrigam a “pôr a mão na massa” e que passam, principalmente, pelos temas da gestão do orçamento familiar, empreendedorismo, ética nos negócios, entre outros.
Para Eugénia Ribeiro e Érica Nascimento, a formação financeira permite, a longo prazo, uma melhor qualidade de vida e um país mais sustentável a nível económico e financeiro.
A amostra do estudo, realizado no âmbito do Mestrado em Finanças, foi composta por 136 alunos do ano lectivo 2012/2013, sendo que 55% eram do sexo feminino, 17,6% pertenciam ao 7º ano de escolaridade, 14,7% ao 8º ano, 17,6% ao 9º, 13,2% ao 10º, 19,9% ao 11º e 16,9% ao 12º ano.
Texto editado por Ana Fernandes