Famílias suportam os efeitos dos bombardeamentos "de precisão" israelitas

Poucos comandantes militares do Hamas terão sido mortos nos bombardeamentos israelitas a Gaza. São os civis, e muitas vezes as crianças, os mais atingidos.

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Casa destruída pelos bombardeamentos israelitas em Gaza Mohammed Salem/REUTERS

O ministério da saúde de Gaza contabilizava este domingo pelo menos 160 mortes, incluindo 135 civis – entre os quais 30 crianças – e mais de mil feridos, em seis dias de bombardeamentos israelitas. O Hamas responde com tiros de rockets, sem que haja mortos em Israel.

Poucos comandantes ou até mesmo militantes do Hamas, movimento político com um braço militarizado que governa Gaza, terão sido atingidos. Ainda assim, Israel diz estar mais determinado do que nunca em matar os chefes do Hamas e enfraquecer as suas capacidades para lutar, para pôr fim aos tiros de rocket que atormentam as suas cidades.

Sem fim à vista para a campanha israelita, familiares, vizinhos e pessoas que garantem nada ter a ver com o Hamas – mas vivem num território densamente povoado e com fracas infra-estruturas, governado por esta força – têm estado na linha de fogo dos ataques israelitas.

“Ainda não consigo acreditar que isto aconteceu, é como um pesadelo”, diz Shadi Hamad, de pé no pátio do que era a casa da família, juntamente com outros familiares em lágrimas. “Eram 23h e a família tenha acabado de se sentar em círculo, para tomar café, depois de ter quebrado o jejum do Ramadão. O míssil aterrou no meio deles. Matou toda a gente.”

Este ataque israelita tinha por alvo Hafez Hamad, um comandante local do grupo Jihad Islâmica, e de facto matou-o – a ele e aos seus pais, dois irmãos e a uma sobrinha.

“Onde é que estão os direitos humanos de que eles e os seus apoiantes tanto falam?”, interrogou Bassam Qassem, um vizinho. “Mesmo que Hamad fosse um resistente, isso autoriza-os a matar a família toda? Isto é assassínio.”

Israel descarta qualquer responsabilidade pelas mortes em Gaza. Afirma que o Hamas põe o seu pessoal e armas deliberadamente entre os civis, esperando obter simpatia com as mortes. “Estamos a usar todas as nossas capacidades ofensivas, mas não sem usar o cérebro – não sem levar em consideração que também há civis em Gaza. O Hamas transformou-os em reféns”, disse o chefe do Estado-Maior general israelita, tenente-general Benny Gantz, usando o argumento habitual de Israel.

O exército publicou imagens aéreas que diz mostrarem armas escondidas entre prédios de habitação – que, quando atingidos por um míssil, provocam “explosões secundárias.” Por vezes há rockets que parecem disparados de zonas residenciais, embora o Hamas negue usar pessoas comuns como escudos humanos.

Israel diz que avisa regularmente os moradores das casas que vão ser bombardeadas – com SMS, telefonemas, até com pequenos mísseis sem carga que são como um “truz, truz”, para avisar que o próximo será a sério. Mas os habitantes de Gaza dizem que não há tempo suficiente para evacuar as habitações, ou que os avisos nem sempre chegam – ou nem sempre são compreendidos.

Uma voz apressada ouvia-se na frequência de rádio da polícia, na sexta-feira, dando conta do raide contra uma casa em Beit Hanoun. Havia só uma morte a lamentar: Saher Anu Namous, de quatro anos, que estava numa maca de aço na morgue local, pálido e com a cabeça aberta, os membros gorduchos embrulhados num sudário por um funcionário forense que preparou o corpo para o colocar numa câmara frigorífica.

Mais de 500 casas foram completa ou parcialmente destruídas por ataques aéreos israelitas em Gaza desde terça-feira, de acordo com a Associação de Direitos Humanos Al-Mezan. Os palestinianos consideram que estes ataques se destinam a semear o pânico e a criar divisões entre os civis e os militantes.

“Não conseguem encontrar alvos, porque estão escondidos, portanto decidiram punir pessoas inocentes. Vê alguns combatentes da resistência aqui? Claro que não. Passaram à clandestinidade”, Aziz Abu Awdeh, na cidade de Beit Hanoun, no Norte de Gaza. “Isto é terrorismo, no verdadeiro significado da palavra. Matar familiares e pessoas comuns só nos aproxima mais enquanto povo. A resistência é o nosso direito, qualquer povo do mundo se defenderia contra isto.”

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