Uma multidão à volta dos Arctic Monkeys
Primeira noite do festival Nos Alive com lotação esgotada, para uma assistência multinacional, que vibrou com os Arctic Monkeys.
No primeiro dia do Nos Alive foi sempre assim. Gente por todo o lado, no limite do confortável. Nos últimos anos, o festival empenhou-se na atracção de público proveniente da Europa.
Nesta quinta-feira, sentiu-se, talvez como nunca antes, que essa operação está a dar frutos, com o recinto cada vez mais multinacional. Foi dia de lotação esgotada – 55 mil pessoas, segundo a organização – e para muitos existia um grupo que sobressaía: Arctic Monkeys.
Há um ano, na abertura do Super Bock Super Rock, haviam sido totalmente convincentes. Ontem, com um alinhamento a privilegiar o último álbum AM (2013) e uma atitude em palco mais distante, foram-no também, mas não arrebataram, como já aconteceu noutras ocasiões – foi a sua sétima vez em Portugal.
Já não constitui novidade. O seu som rock contundente mas de envolvimento físico, a secção rítmica dinâmica, os solos de guitarra enxutos, a voz jovial e as letras que nos devolviam o quotidiano juvenil com precisão documental, fazem parte do seu passado. Hoje, os Monkeys são mais diversos e, ao mesmo tempo, mais clássicos. Isso sente-se em disco e também no palco.
Há perdas e ganhos. Há menos efervescência. Mas conquista-se mais sentido de espectáculo, centrado em Alex Turner, com o inglês parecendo incarnar décadas de rock & roll, de Roy Orbison a Elvis Presley ou a Josh Homme (Queens of the Stone Age).
Há lugar para canções que toda a gente conhece, como I bet you look on the dancefloor ou Fluorescent adolescent, mas acima de tudo existe uma gestão competente dos diversos momentos do concerto, que tanto pode contemplar baladas como I wanna be yours (já no encore), situações de envolvimento sónico como No.1 party anthem ou a musculatura rock de Dancing shoes.
No final, Alex Turner cantou e perguntou R U mine?, e a massa respondeu efusivamente de forma afirmativa. Missão cumprida.
Antes dos Monkeys, pelo palco principal tinham passado os americanos Interpol, que regressam agora com novo álbum (El Pintor, sai em Setembro), depois de alguns anos sem novidades.
As canções novas apresentadas não diferem daquilo que já lhes reconhecemos. O que não surpreende. A singularidade dos nova-iorquinos sempre residiu na forma precisa como criam temas rock solenes, organizados de forma rigorosa e condensada.
Há urgência. Mas é uma urgência emocional polida. O palco elegante, o visual negro dos músicos, a postura compenetrada e a voz arrastada de Paul Banks apenas reforçam essa ideia.
Às tantas, Banks disse que era um orgulho estar ali, num festival com um cartaz tão bom, mas o público pareceu um pouco alheado. E foi pena, porque existiram momentos francamente bons, como quando foram resgatar ao esquecimento Leif Erikson, uma das canções mais invisíveis do primeiro álbum, com o ritmo marcial da bateria e a voz taciturna a jogar na perfeição com as circulações melódicas da guitarra de Daniel Kessler.
Ficou a ideia de que aquele não era o público dos americanos, mais interessado nos Monkeys ou nos americanos Imagine Dragons. Estes constituem um caso de sucesso comercial dificilmente explicável. Se as canções dos Interpol são estruturadas de forma muito semelhante, o que pode gerar cansaço ao longo de um concerto, cada uma das canções dos Dragons parece conter diversas canções reconhecíveis de um sem número de bandas.
Até apresentaram uma versão da enérgica Song 2 dos Blur e não pareceu despropositado. É que os americanos constituem uma contínua homenagem. Não há grande identidade. Apenas o resgate de tudo o que tem rímel e é previsível no rock. Mas quando foram apresentados It’s time ou On top of the world, a canção que se tornou um êxito depois de uma campanha publicitária, ou quando o vocalista elogiou o público, a celebração aconteceu na mesma.
Estes foram os três concertos que mais atenções concentraram. O resto, no Nos Alive, já sabe, depende do roteiro individual de cada um, desenhado pelos diversos palcos. A americana Kelis foi certamente uma das mais prejudicadas, tendo actuado à mesma hora dos Monkeys. A folk dos americanos The Lumineers entusiasmou apenas quando tocaram o single Ho hey, enquanto os ingleses The 1975, apesar da designação, parecem ter ido resgatar tudo aos anos 1980, mistura de rock orelhudo com pop de laivos electrónicos que, em palco, por vezes, até acaba por entusiasmar.
No espaço dedicado às sonoridades mais dançantes, o alemão Pantha Du Prince não trouxe os músicos que com ele têm exposto o álbum Elements of Light, onde mistura sons de sinos com electrónicas. Mas mesmo sozinho conseguiu mostrar porque é um dos estetas das electrónicas que tem sido capaz de conferir profundidade de campo e climas novos ao tecno ou house.
Qualquer coisa de semelhante poderia ser dito de Daphni (outra forma de dizer Caribou) e Jamie xx, que actuaram no mesmo local.
Este último beneficiou do facto de ter iniciado a sua sessão DJ depois do final do concerto dos Monkeys, com grande parte da multidão a concentrar-se aí. Ou então, num outro palco, onde os austríacos Parov Stelar Band conseguiram fazer a festa, com um misto de impulsos electrónicos e swing. Ou seja, depois do rock da primeira parte, a segunda metade da noite fez-se com dança.
Esta sexta-feira, o festival prossegue com os Black Keys, Buraka Som Sistema, MGMT, Caribou, Au Revoir Simone, Sam Smith ou SBTRKT.