Pressão internacional não vai travar ofensiva contra o Hamas, diz Netanyahu

EUA propõem liderar negociações de cessar-fogo para evitar ofensiva terrestre israelita sobre Gaza. Uma centena de palestinianos mortos em quatro dias de ofensiva. Hamas avisa que aeroportos são um alvo dos seus rockets.

Fotogaleria
Blindados do Exército israelita em manobras junto à fronteira Jack Guez/AFP
Fotogaleria

“A pressão internacional não impedirá Israel de prosseguir a sua operação em Gaza”, frisou Netanyahu, desvalorizando os apelos à contenção militar e à negociação de um cessar-fogo que se têm multiplicado nos últimos dias. Numa conferência de imprensa em Telavive, o primeiro-ministro assegurou que as forças armadas continuarão a aplicar “golpes duros” contra o Hamas até que os cidadãos de Israel voltem a viver com tranquilidade.

Netanyahu responsabilizou o lado palestiniano pela escalada da situação em Gaza e disse que as movimentações das tropas israelitas, que já mobilizaram 33 mil reservistas e estão a “avaliar e preparar-se para todas as possibilidades”, nomeadamente de uma incursão por terra, têm a ver com a promessa do movimento islamista de continuar a disparar rockets para o lado de lá da fronteira.

A declaração de firmeza de Netanyahu surgiu em resposta à disponibilidade manifestada pelo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para assumir pessoalmente o protagonismo na mediação de um acordo que permita restaurar o cessar-fogo entre israelitas e palestinianos, nas condições acordadas em 2012, após o último surto de violência em Gaza.

A “oferta” do líder norte-americano não implicava contactos directos com o Hamas, que os EUA consideram uma organização terrorista. Barack Obama condenou as acções do Hamas, mas alertou “para o risco de uma nova escalada, sublinhando a necessidade de os dois lados fazerem tudo ao seu alcance para proteger a vida de civis e restaurar a calma”.

Questionado pelos jornalistas, Bibi disse que a conversa com o Presidente dos Estados Unidos tinha sido “muito positiva”, tal como uma outra chamada telefónica, no mesmo dia, com a chanceler alemã Angela Merkel. Mas o primeiro-ministro insistiu que nenhum deles foi capaz de o convencer a desistir de “usar todo o poder de fogo” contra o Hamas – até agora, Israel recorreu ao dobro da força exercida na campanha de 2012.

Em quatro dias, Israel largou mais de 1100 bombas sobre Gaza – um ataque a cada cinco minutos – que mataram cem palestinianos, muitos deles civis. Fontes palestinianas, citadas pela AFP, adiantam que cinco pessoas, incluindo uma mulher, morreram no ataque à casa de um operacional da Jihad Islâmica, um dos principais grupos armados palestinianos, no Sul da Faixa de Gaza. Horas antes, num ataque contra um bairro da cidade de Gaza, provocou pelo menos um morto. Durante a manhã, um míssil destruiu um carro que circulava na cidade, matando dois dos ocupantes.

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, manifestou dúvidas quanto à legalidade da campanha aérea israelita sobre a Faixa de Gaza. Em causa está o respeito pela legislação internacional que proíbe o bombardeamento de alvos civis, e também as convenções de guerra que exigem que a proporcionalidade dos ataques aos respectivos alvos.

“Recebemos relatos muito perturbantes de que a maior parte das vítimas civis, incluindo crianças, foram atingidas [pelas bombas israelitas] dentro das suas casas, o que levanta sérias dúvidas quanto ao respeito pela lei internacional relativa aos direitos humanos e às questões humanitárias”, observou Pillay. Israel insiste que as casas que está a bombardear são usadas pelo Hamas como postos de comando e refere que os habitantes são informados previamente do ataque.

No mesmo período de quatro dias, o Hamas disparou 550 rockets para Israel: esta sexta-feira, os militantes voltaram a atingir localidades do Sul de Israel e, pela primeira vez, a maior cidade do Norte do país, Haifa. A área metropolitana de Telavive também esteve debaixo de fogo – a organização islamista fez saber que o aeroporto internacional Ben Gurion era um dos alvos do ataque, que foi interceptado pelo escudo antiaéreo israelita. Um porta-voz do aeroporto, citado pela AFP, disse que as aterragens e descolagens foram suspensas "durante nove minutos" após o alerta antiáereo, mas as operações depois regressaram à normalidade.

Segundo o jornal israelita Ha’aretz, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, telefonou várias vezes ao presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, e ao seu homólogo no Qatar, país onde vive o líder do Hamas, Khaled Meshal, para tentar encontrar pontes de diálogo. Em simultâneo, os EUA tentam convencer o Egipto a regressar ao papel de mediador – uma possibilidade remota, tendo em conta que o novo regime do Cairo vê no Hamas uma réplica da Irmandade Muçulmana, que ilegalizou.

Ofensiva terrestre tem riscos elevados
Quinta-feira, Netanyahu disse ao país que “a batalha está a evoluir como planeado, mas são de esperar novas etapas no futuro”. Antigos militares e analistas apontam para os elevados riscos de uma nova incursão, num dos territórios mais densamente povoados do mundo, mas o Exército não descarta essa opção. No briefing desta manhã, um porta-voz militar revelou que foram já chamados 33 mil reservistas (dos 40 mil que o Governo autorizou a mobilizar) para substituir as forças regulares que estão na Cisjordânia, libertando-as para a frente de Gaza. “Ao todo dispomos de três brigadas de infantaria junto a Gaza, a que se vão juntar mais duas brigadas nos próximos dias”, adiantou. Um fotógrafo da AFP deu também conta de uma grande concentração de peças de artilharia posicionadas junto à fronteira com o enclave palestiniano.

Num novo desenvolvimento, dois rockets foram disparados ao início da manhã a partir do Sul do Líbano, uma região dominada pelo movimento xiita Hezbollah. Só um caiu em território israelita e o Exército respondeu com disparos de artilharia.

Sugerir correcção
Comentar