Iraque confirma que jihadistas tomaram antiga fábrica de armas químicas

Na unidade não haverá agentes activos. Na mais recente atrocidade do conflito, 53 cadáveres foram encontrados numa aldeia a sul de Bagdad.

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Xiitas que se voluntariaram para combater o ISIS num centro de recrutamento Mahmoud Raouf Mahmoud/Reuters

A perda daquela que foi a principal fábrica de armas químicas do regime de Saddam Hussein foi comunicada às Nações Unidas pelo embaixador Mohamed Ali Alhakim, informando que face aos desenvolvimentos no terreno “o Iraque não tem actualmente capacidade para cumprir as suas obrigações de destruição” do que lhe resta dos antigos arsenais, escreve a Reuters.

Na carta, divulgada terça-feira à noite, o embaixador conta que “grupos terroristas armados” entraram na unidade de Muthanna, a Sul da cidade de Samarra e a apenas 56 km a Noroeste de Bagdad, no dia 11 de Junho, capturando os guardas e apoderando-se das suas armas. Na manhã seguinte, o responsável pela unidade observou “o saque de algum equipamento e ferramentas através do sistema de videovigilância” à distância, que foi pouco depois desactivado pelos atacantes.

Entre as áreas saqueadas estão os bunkers 13 e 41, lê-se na carta. O jornal britânico Guardian recorda que o último grande relatório dos inspectores das Nações Unidas sobre o arsenal iraquiano – escrito um ano depois de terem deixado o país, aquando da invasão americana, em Março de 2003 – refere que no bunker 13 estavam armazenados 2500 rockets com gás sarin produzidos antes de 1991 e 180 toneladas de cianeto de sódio, um químico em pó altamente tóxico que é um percursor do agente neurotóxico tabun.

 A unidade foi bombardeada durante a primeira guerra do Golfo e os rockets foram “parcialmente destruídos ou danificados”, revelam os inspectores, acrescentando que as munições de sarin se teriam degradado depois de tanto tempo em armazém. Revelam ainda que os contentores de tabun foram tratados com uma solução descontaminante, o que neutralizou o agente químico, embora “os resíduos do tratamento possam ainda conter cianetos, o que os torna ainda perigosos”.

No bunker 41 estavam em 2003 dois mil rockets com vestígios de gás mostarda – e por isso altamente tóxicos – e 605 contentores com resíduos deste agente.

Os inspectores da ONU nunca mais regressaram Muthanna depois de 2003, mas os peritos incumbidos pelos EUA de encontrar armas de destruição maciça após o derrube de Saddam nunca encontraram qualquer munição em condições de ser usada, recorda o Guardian.

Por isso, quando correram informações de que os rebeldes sunitas liderados pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) tinham tomado Muthanna, Washington lamentou que as forças de segurança iraquianas não tivessem conseguido proteger o local. Mas o o risco de o grupo terrorista usar o material que saqueou em ataques seria mínimo. “Não estamos a falar de armas químicas intactas, seria muito difícil, se não mesmo impossível, usá-las para fins militares ou sequer transportá-las”, afirmou Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado. O Pentágono considera também que o material existente em Muthanna “seria mais uma ameaça para quem se apoderar deles do que para qualquer outra pessoa”.  

Novas execuções

Depois do avanço fulgurante do ISIS na segunda semana de Junho, conquistando Mossul, Tikrit e dezenas de outras cidades do Norte e Oeste do Iraque, o Exército iraquiano conseguiu com o apoio das milícias xiitas travar a progressão dos jihadistas e dos grupos rebeldes sunitas que aliaram a eles. Mas recuperou pouco ou nenhum terreno e, na semana passada, o ISIS proclamou um califado nos territórios que controla. Bagdad e o Sul xiita estão, pelo menos no curto prazo, a salvo da ofensiva, mas a guerra está a reacender a violência sectária, com inúmeros ataques e retaliações atribuídos a radicais xiitas e sunitas.

Não se sabe ainda se foi isso que aconteceu em Hamza al-Gharbi, uma pequena localidade próxima de Hilla, a capital da província de Babil (Centro), onde nesta quarta-feira as forças de segurança iraquianas descobriram os cadáveres de 53 homens, largados em pomares. Tinham as mãos amarradas e ferimentos de bala na cabeça e no abdómen, noticiou AFP, adiantando que os primeiros exames indicam que as mortes terão acontecido há pelo menos uma semana.

Desconhece-se para já a identidade das vítimas ou quem terão sido os assassinos e também não é clara a motivação. A agência francesa diz que não houve combates em Hamza, mas a área a norte de Hilla é dividida entre xiitas e sunitas e, no auge da violência que se seguiu à invasão norte-americana, ganhou o epíteto de “triângulo da morte”, tantas foram as atrocidades cometidas de parte a parte e os ataques contra as forças estrangeiras, recorda a BBC.

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