Parlamento do Iraque adia arranque da legislatura até 12 de Agosto

Decisão prolonga o impasse político por mais cinco semanas. Islamistas apertam cerco à capital.

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Membros abandonam o parlamento a 1 de Julho, depois do primeiro adiamento REUTERS/Stringer

A mudança do prazo deve-se ao braço-de-ferro político entre as diversas facções com representação parlamentar, que até agora não conseguiram chegar a consenso para a indicação de um líder que conduza a sessão inaugural – e garanta o cumprimento do calendário para a formação de um novo governo e a escolha do Presidente e primeiro-ministro.

A crise institucional em Bagdad não é exactamente uma novidade no Iraque: o Governo que ainda se encontra em funções só ficou formado nove meses depois das eleições legislativas de 2010. Já nessa altura o impasse tinha a ver com a recondução de Nouri al-Maliki, o líder xiita que assumiu a chefia do executivo em 2006, com o apoio dos Estados Unidos. A diferença, este ano, é que existe uma insurreição armada interessada em aproveitar o vazio de poder.

O Exército e forças de segurança têm sentido grandes dificuldades em conter o avanço dos militantes do Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIS) que já proclamaram a criação de um califado nos territórios da Síria e do Iraque sob o seu domínio. Os rebeldes controlam as cidades de Mossul, Tikrit e Faluja e encontram-se a pouco mais de 50 quilómetros da capital.

Nesta segunda-feira, numa ofensiva sobre Ibrahim bin Ali (um subúrbio da capital onde ficava a conhecida prisão de Abu Ghraib), abateram o comandante da 6.ª divisão do Exército iraquiano que era responsável por assegurar a defesa de Bagdad. Um carro armadilhado explodiu num posto de controlo no centro da cidade, provocando a morte de seis pessoas – no domingo, um bombista suicida atacou um café num bairro maioritariamente xiita da capital, fazendo quatro vítimas.

Com os islamistas a apertarem o cerco à capital, repetem-se os apelos à formação de um governo de unidade e salvação nacional e à substituição de Nouri al-Maliki, que personifica o autoritarismo e sectarismo que partiu o país em blocos irreconciliáveis. Nas eleições de Maio, a sua coligação xiita obteve nova vitória, mas falhou a maioria absoluta, o que a obriga à negociação de alianças com os representantes das minorias sunita e curda e à partilha do poder.

A insistência do bloco xiita num terceiro mandato de Al-Maliki condena essas negociações ao fracasso. Mas há sinais de fractura interna: no sermão de domingo, o líder religioso xiita Moqtada al-Sadr pediu à coligação para retirar o seu apoio ao primeiro-ministro e indicar outro nome para o cargo.

Desde o fim do regime de Saddam Hussein, os políticos iraquianos têm respeitado um compromisso – nunca escrito – segundo o qual o primeiro-ministro é indicado pela maioria xiita, o líder do parlamento pelos sunitas e o Presidente (uma figura apenas com funções de representação) é curdo.

A comunidade internacional assiste com preocupação ao desenrolar dos acontecimentos. Não é só a campanha do ISIS que põe em causa a estabilidade regional: é também a crise política interna que deixa o país à beira da desagregação, abrindo o caminho à independência do Curdistão.

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