O que é um califa?

A evocação do califado pretende reconstruir a ideia de poder de um império.

Ao invocar o califado e ao declarar o seu líder califa, o movimento islamista do Iraque está a tentar reconstruir a ideia de um poder temporal do império árabe muçulmano. “O que se pretende é recuperar o prestígio de uma instituição que esteve à frente da comunidade árabe muçulmana desde a morte de Maomé até Ataturk acabar com o último califado”, diz António Manuel Dias Farinha, professor de História na Universidade de Lisboa e director do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da Faculdade de Letras.

É após a escolha de Ali, o quarto califa, que se dá a divisão entre sunitas e xiitas (e ainda kharijitas, deixando pouco depois os xiitas de escolher califas), e que se passa depois para a “idade de ouro” do califado dos Omíadas (661-750), com sede em Damasco, e dos Abássidas (750-1248), com sede em Bagdad. Em 1248 o califa passa a estar no Cairo, e em 1517, com a conquista do Egipto, o título califal passa para o sultão otomano. O último califado foi o otomano, desmantelado em 1924 para dar lugar à Turquia secular de Ataturk.

A diferença do califado para outros regimes com base na lei islâmica é simplesmente “a prática”, diz o professor. Ainda hoje há designações em líderes árabes e muçulmanos que apontam para a condição de califa: “O rei de Marrocos tem no seu título o de ‘chefe dos crentes’”. Também entre os taliban, o comandante mullah Omar era o “comandante dos fiéis”.

Apesar do califa ser o líder da comunidade de crentes, a Umma, e evocar uma ideia de unidade, esta autoridade não é necessariamente unificadora – “houve alturas na história em que houve três califas ao mesmo tempo”, diz Dias Farinha.

A ideia do califado é “ter um chefe carismático aceite pelo maior número possível de pessoas como califa”, comenta o professor. Mas no caso do Iraque poderá antes acentuar divisões.
 

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