Rastreios à visão deveriam ser mais regulares nas escolas portuguesas

Sociedade Portuguesa de Oftalmologia avança que uma em cada cinco crianças usa óculos.

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Nuno Ferreira Santos

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), uma em cada cinco crianças em idade escolar usa óculos devido a factores como o aumento de tarefas, o uso de computadores e tablets, o excesso de televisão e exposição à luz artificial, a componente genética e a prematuridade.

Actualmente, os rastreios à visão são efectuados nos hospitais, centros de saúde, consultas de pediatria e em algumas escolas públicas do país.

A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) considera que estes deveriam ser feitos com regularidade, para ajudar a combater o insucesso escolar. “É preciso tentar perceber se, por exemplo, os casos de dificuldades de aprendizagem se prendem com problemas de visão e não com as capacidades das crianças”, defende Jorge Ascenção, presidente da Confap, para quem, a realidade é diferente de há 20 ou 30 anos e os rastreios podem ajudar a prevenir riscos, pois as crianças começam mais cedo as suas tarefas escolares, a jogar no computador ou a usar o telemóvel.

Jorge Ascenção deu como exemplo um caso em que só no 5.º ou 6.º ano, quando foi feito um rastreio, é que se percebeu que a criança tinha dificuldade em ver e que se descobriu que esta precisava de óculos, ou seja, "andou todo um 1.º ciclo sem que ninguém se apercebesse”.

Por sua vez, o vice-presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, lembra que há muitas escolas públicas que fazem rastreios à visão, mas que estes "não são regulares". “Há essa boa prática nas escolas públicas, juntamente com os centros de saúde locais. Muitas vezes são as ópticas que vão às escolas fazer esse rastreio, encaminhando se necessário os miúdos para consultas da especialidade”. Contudo, o director lamenta que esta prática não seja feita com mais regularidade.

“Os rastreios são gratuitos e dão a indicação aos pais para irem depois a uma consulta. Por exemplo, há pouco tempo tive conhecimento do caso de uma miúda que tinha vergonha de dizer que via mal, o professor percebeu e esta foi encaminhada para o centro de saúde e afinal tinha miopia. Se tivesse havido um rastreio o problema poderá ter sido detectado mais cedo”, salienta.

Aumento do uso de computadores
Uma em cada cinco crianças em idade escolar usa óculos, devido, entre outras causas, ao aumento de tarefas e uso de computadores, revela o oftalmologista Paulo Vale, alertando para a importância dos rastreios a partir dos três anos. “A percentagem de crianças que necessita de óculos tem vindo a aumentar. Na idade escolar (até aos 16/17 anos) temos uma percentagem de 20% e no pré-escolar (até aos 4/5 anos) de 5 a 7%”, revela o especialista da SPO.

Paulo Vale sublinha que se trata de uma tendência mundial, nos últimos anos. Na origem deste aumento estão vários factores, como o aumento das tarefas escolares nas crianças, o uso crescente de computadores e tablets, o excesso de televisão e a exposição à luz artificial, assim como a componente genética e a prematuridade.

“Estes factores são causas frequentes do aumento dos problemas refractivos, como a miopia, que tem vindo a subir nos últimos anos”, explicou, salientando que o ideal seria que as crianças fizessem um rastreio visual a partir dos três anos. “Não existe nenhum regime obrigatório para o rastreio, depende da sensibilidade dos pais para os sinais de alerta e do pediatra ou médico de família”, acrescenta.

Paulo Vale reconhece que nem sempre é fácil para os pais perceberem se os filhos têm problemas de visão, porque as crianças são muito activas e curiosas, o que dificulta essa percepção. Por isso, aconselha os pais a estarem atentos aos sinais de alerta,por exemplo, quando as crianças se aproximam demasiado da televisão, quando lacrimejam, quando apresentam intolerância à luz e olhos vermelhos.