Não houve "Mestre de Avis" para tamanho inimigo

Na Praça Dom João I, no Porto, centenas viram uma dura batalha que acabou numa pesada derrota.

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Fotos: Miguel Nogueira
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“Já há dois e quatro anos foi igual, estive por aqui e ainda deu para ver uns joguitos”. Aníbal é um dos portugueses na praça mas, ao contrário dos demais, está mais habituado a ouvir no rádio os relatos e não veste uma camisola encarnada ou tem a cara pintada. Há dez anos taxista no Porto, esta é a sua postura preferida.

António também se vê forçado a trocar o cachecol pelo volante. “Se aparecer um cliente, primeiro está o trabalho, depois está o futebol. Vai ser um jogo muito difícil, se Portugal conseguisse um empate era muito bom”, argumenta.

A poucos minutos do pontapé inicial, sente-se um optimismo contido. Ainda assim, na Praça Dom João I aguarda-se com ansiedade que os jogadores portugueses repitam as façanhas do Mestre de Avis, que dá nome à praça e derrotou adversários de Portugal na Batalha de Aljubarrota. Está em jogo uma partida de futebol e o orgulho desportivo nacional, desta vez não ameaçado pelos espanhóis, mas sim pelos alemães e com um rosto em evidência: o de Angela Merkel. Os maiores coros de assobios da tarde ouviram-se quando a chanceler surgia na imagem.

De repente, um presságio, um sinal de que a tarde poderia não reservar coisas boas: um problema na instalação sonora impediu a multidão de adeptos de ouvir o hino nacional. Pouco depois, ao fim de dez minutos de jogo, de sol e de calor, o primeiro aperto no coração: penálti a favor da Alemanha. Thomas Muller inaugura o marcador e, a milhares de quilómetros, os adeptos portuenses abrem as hostilidades contra a equipa de arbitragem.

No meio de uma praça a torrar de calor e algum sofrimento, ainda se ouve “Portugal!” e adeptos a vibrar quando Cristiano Ronaldo tenta dar um ar da sua graça. Porém, estava escrito que a batalha iria ser dura, e que Portugal sofreria as maiores baixas. Num pontapé de canto, Matts Hummels saltou mais alto que Pepe e marcou o segundo para os alemães. O descrédito apodera-se da praça. “Queres ver que vamos levar uma banhada”, comentam uns adeptos, mais jovens, cuja faixa etária está em larga maioria. Vêem-se alguns adeptos da Alemanha, poucos, e uma ou outra cara conhecida, como a do presidente da Câmara do Porto, no meio da multidão, de camisa branca.

A expulsão de Pepe derruba os primeiros resistentes e o terceiro golo da selecção germânica, já perto do intervalo, serve de pretexto para não se voltar para o segundo tempo. “Não estou a gostar, tudo está a correr mal”, comenta João Araújo. O taxista, de regresso à viatura, também perdeu a esperança. “Fui ver a primeira parte, não houve cá clientes, mas a segunda, já que estou em primeiro na fila, não vou ver”.

E não perde muito. Com a Praça Dom João I já a meio gás, os fãs assistem resignados ao terceiro golo de Muller na partida, para o 4-0 da Alemanha. Uma minoria lança ainda enxofre vermelho e verde para o ar, acompanhado por uns tímidos cânticos. No final, nem aplausos, nem apupos. Apenas adeptos mais resistentes que começam a dispersar com uma festa adiada no bolso.

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