Um, dois, três, quatro, cinco, seis. Há longos seis anos que não ouvíamos música nova a Chan Marshall, moça conhecida por Cat Power no que toca às canções. The Greatest tinha sido, na altura, todo ele enamoramento pela soul de Memphis. Claro que em 2008 tivemos ainda direito a Jukebox, maravilhoso disco de versões, que lhe punha na boca Bob Dylan, Hank Williams ou James Brown, Billie Holiday, Janis Joplin ou Joni Mitchell. Mas a ressaca por material novo era quase palpável. Neste período, Marshall decidiu investir nos afectos, procurar menos os palcos e compor sem pressas, impondo-se o afastamento possível da guitarra e do piano, seus habituais parceiros de composição.
Mas falemos do novo Sun, 11 temas de um disco inesperado na cronologia criativa da senhora Marshall. Se David Bowie foi para Berlim nos anos 70 à procura de descobrir uma nova sonoridade na cauda do krautrock, Cat Power dispensou os bilhetes de avião e jogou com uma abordagem distinta, recusando largamente os seus dois instrumentos mais naturais para chegar ao seu álbum mais experimental. Uma espécie de reverso de Moon Pix, o álbum de 1998 gravado com dois Dirty Three, como nos explicou na entrevista a publicar mais perto do lançamento de Sun, que acontecerá a 4 de Setembro, antes que o sol se esconda. Sun, a traço largo, vive de farrapos de electrónica espalhados por cima de baterias primárias, de vozes a ceder episodicamente a um autotune de bom gosto (suspender, por momentos, a contradição), de uma fuga consciente aos vícios criativos de Chan Marshall, e da bênção de Iggy Pop (que aqui participa, em Nothin' but time, tal como fez com Bowie) num álbum pré e não pós desastre amoroso. Judah Bauer (Blues Explosion, e ex-banda de Power) dá também uma ajuda em Silent machine.
No novo álbum, tomado até agora como o mais upbeat e menos ensimesmado de Marshall, quase todos os instrumentos lhe pertencem, num processo de descoberta de sons novos para inventar canções que não repisassem as antigas. Sun é, à falta de melhor, Cat Power como nunca antes a ouvimos. E isso, vão ver e ouvir, é verdadeiramente bom.