Tony Blair: "Nós não causámos a crise no Iraque"

Antigo primeiro-ministro britânico diz que é "extraordinário" sugerir que o Iraque estaria mais estável com Saddam Hussein no poder.

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"Temos de colocar as nossas diferenças do passado de lado e agir para salvar o futuro", diz Blair REUTERS/Andrew Winning

Para Tony Blair, afirmar que a invasão do Iraque em 2003, levada a cabo pelos EUA e Reino Unido, causou a actual crise no país é uma tese "bizarra", apontando o dedo ao governo iraquiano de Nouri al-Maliki e ao conflito na Síria. "Temos de nos libertar da noção de que 'nós' causámos isto", escreve Tony Blair num ensaio publicado no site da fundação Faith Foundation.

À BBC, Blair afirmou que mesmo que Saddam tivesse permanecido no poder em 2003, o que aconteceu em 2011 seria suficiente para acender o rastilho no Iraque: "Tivemos as revoluções árabes na Tunísia, Líbia, Iémen, Egipto e na Síria – teríamos igualmente um grande problema no Iraque", defendeu. 

Admitindo que não foram, como prometido na altura, encontradas armas de destruição massiva no Iraque, Blair virou a agulha para a Síria: "O que sabemos agora da Síria é que Assad, sem que o Ocidente se tenha apercebido, estava a fabricar armas químicas. Só o descobrimos quando as usou. Também sabemos, depois dos relatórios finais dos inspectores, que embora seja verdade que Saddam se livrou das armas físicas, ele manteve o conhecimento e a capacidade para as fabricar". 

O antigo primeiro-ministro britânico rejeita ainda a ideia de que a invasão de 2003 tenha contribuído para o crescimento de grupos jihadistas como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS). "Podemos discutir se as nossas políticias ajudaram ou não, ou se agir ou não agir é a melhor política. Mas a causa fundamental para a crise reside dentro da região, e não fora", afirma Tony Blair. 

Primeiro, o ISIS conquistou parte do ocidente iraquiano, Falluja, Ramadi, junto à fronteira síria. Seis meses depois, lançou-se numa conquista desenfreada, chegou em dias a Mossul, Tikrit, ameaça províncias inteiras e a capital.

"Temos de colocar as nossas diferenças do passado de lado e agir agora para salvar o futuro", escreve Blair, acrescentando que a utilização da força pode ser necessária: "Os extremistas têm de ser enfrentados duramente, com força", defendeu.

Em Londres, fontes governamentais confirmaram que soldados britânicos poderão ser enviados para o Iraque para ajudar a travar a ameaça do ISIS. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse neste sábado que a assistência dos EUA ao Iraque depende do entendimento entre os vários líderes iraquianos. Kerry falou com o ministro dos Negócios Estrangeiros iraquiano, Hoshyar Zebari, pedindo uma força nacional coordenada e efectiva para enfrentar o ISIS.

O secretário de Estado norte-americano apelou ainda a que o Iraque ratifique os resultados das eleções parlamentares do passado dia 30 de Abril e forme um novo governo rapidamente. 

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