Estilhaços de confronto CGTP/UGT chegam à manifestação no Porto
Milhares de trabalhadores do Norte e do Centro desfilaram da Praça do Marquês à Praça da Liberdade, a exigir eleições legislativas.
Arménio Carlos ainda não lera, mas já alguém lhe contara que Carlos Silva tinha acusado a CGTP de ser “uma organização autofágica”. “Quando se deixam amarrar por princípios político-partidários em que há um partido, o PCP, o mais ortodoxo de toda a Europa Ocidental, que faz da sua política uma política de destruição, de separatismo, de sectarismo, de oposição a tudo o que é unidade e, sobretudo, de rejeição da convergência – a não ser que a convergência lhes dê jeito –, então como é que os trabalhadores se podem sentir confortados?”, questionara, em Vila Nova de Cerveira, segundo a Lusa.
“Não reagimos a declarações ofensivas e de baixo nível”, comentou ao PÚBLICO, ao descer da camioneta que lhe servira de púlpito. “São declarações que tentam desviar a atenção do povo português do que interessa. Não vamos entrar nesse processo. As propostas de lei que estão em marcha são dirigidas a todos os trabalhadores sindicalizados nos sindicatos da CGTP, da UGT ou independentes, e aos trabalhadores não sindicalizados. O momento exige unidade na acção.”
Ao dirigir-se a quem resistia ao calor, procurara explicar o que em seu entender mais importa. “Este é um Governo troca-tintas que, depois de ter assumido publicamente que não voltava a mexer na legislação laboral, avança agora, traiçoeiramente, com novas alterações”, enfatizara. “Eles querem aproveitar o período do Verão, o futebol, os santos populares e as férias para, sorrateiramente e pela calada, tentar desmantelar um dos alicerces fundamentais da nossa democracia: a contratação colectiva.”
Referira, no entanto, "a provocação" da UGT. E não se esquecera de incluir no seu discurso o que antes irritara Carlos Silva: “A nova troika formada pelo Governo, confederações patronais e UGT, com a proposta de lei que se encontra em discussão até 26 de Junho, pretende destruir a contratação colectiva, reduzir direitos e contribuições e prolongar o período para a redução do valor do trabalho extraordinário até ao final do ano”.
Alheias a tal confronto pareciam as pessoas que por volta das 15h30 se concentraram na Praça do Marquês e desceram – via Rua da Constituição, Rua Antero de Quental, Praça da República, Rua Gonçalo Cristóvão, Rua de Camões, Avenida dos Aliados – até à Praça da Liberdade a gritar:
- Lutar e resistir…
- Até ao Governo cair.
- Só mais um empurrão
- E o Governo vai ao chão.
- Governo dos patrões…
- Queremos eleições.
Luís Freitas, de 41 anos, viera de Bragança com o sobrinho, Diogo, de 14. O motorista da Unidade Local de Saúde Nordeste diz-se desiludido e revoltado. Em vez de progressão de carreira, enfrenta congelamento de salários e subida de impostos. Não era isto que esperava quando começou a trabalhar para o Estado, há quase 20 anos. “Chego ao fim do mês num sufoco financeiro”, suspira.
Desta vez, tinham sido convocados os do Norte e de parte do Centro. Cristina Fernandes, assistente operacional, 44 anos, e Virgínia Coelho, professora, 43 anos, vieram do distrito de Leiria. Vão a todas as manifestações que podem. “Não é um hobby”, brincava Virgínia. “Hobby é ler, ouvir música, estar com amigos. Isto é luta.” Luta, esclarecia Cristina, “por uma sociedade mais justa”. Dia 21, a manifestação é em Lisboa. Talvez lá estejam.