Mais um Verão sem comboio a vapor no Douro

CP vai repetir a oferta do ano passado colocando uma locomotiva a diesel a rebocar carruagens antigas.

Foto
A CP diz que, apesar dos prejuízos, o serviço é para manter Fernando Veludo/nFactos

A situação já se arrasta desde 2012, quando só algumas viagens foram feitas a vapor. Mas o motivo foram as dificuldades geradas pelas greves de maquinistas. Em 2013, as causas já foram outras: a CP pretendia modificar a velha locomotiva 0187 para que, em vez de carvão, o aquecimento da caldeira passasse a ser feito a diesel, que é mais barato e mais limpo. O resultado seria o mesmo porque, independentemente do combustível usado, a tracção continuaria a ser a vapor, mantendo-se o efeito visual deste a sair da chaminé da locomotiva.

A CP não explicou por que motivo esta reconversão ainda não foi feita. Ao PÚBLICO, uma fonte oficial da empresa disse apenas que se pretende em 2015 voltar a pôr a 0187 nos carris. No entanto, para este ano, os turistas do Douro terão de contentar-se com uma máquina a diesel pintada com as suas cores originais azul e branco, tal como circulava nos anos sessenta.

A verdade é que a redução de custos pela não utilização da locomotiva a vapor é significativa. Em 2013, o comboio histórico do Douro só deu um prejuízo de 17 mil euros depois de nos últimos cinco anos ter tido uma média de 74 mil euros de resultados negativos. A CP diz que, apesar das perdas, o serviço é para manter, tendo em conta o impacto positivo no turismo da região. Mas os próprios custos de exploração da locomotiva a vapor estão erradamente calculados, porque a empresa distribui por cada viagem os encargos anuais de manutenção da máquina. Quantas menos circulações fizer, maiores serão os custos por viagem, o que enviesa os resultados de exploração.

António Coelho de Lemos, vice-presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro (APAC), lamenta este aparente abandono da CP pela tracção a vapor para fins turísticos. “Somos neste momento o único país da Europa que não tem um comboio a vapor, o que é caricato tendo em conta que somos um país especialmente vocacionado para o turismo”, diz. E conta que só em Espanha há, pelo menos, três produtos deste tipo, alguns até explorados por associações de entusiastas.

Este dirigente associativo diz que a oferta de viagens regulares em comboios a vapor é comum a praticamente todos os países europeus, sobretudo em França, Alemanha e nos países de Leste, atraindo numerosos turistas. Mas o paradigma do país cuja população é entusiasta dos comboios antigos é a Inglaterra. “A APAC já propôs à CP que, além do Douro, o Algarve seria um dos sítios ideais para fazer serviços turísticos a vapor, tendo em conta sobretudo a grande comunidade inglesa que ali vive e que a visita, para já não falar nos restantes turistas, portugueses e estrangeiros”, diz Coelho de Lemos.

Preços iguais aos do ano passado
O comboio histórico do Douro vai funcionar, este ano, de 5 de Julho a 25 de Outubro, aos sábados, havendo ainda uma viagem extra no feriado do 15 de Agosto.

A CP mantém, em 2014, os mesmos preços do ano passado, que já tinha sofrido uma redução em virtude da tracção ser feita com máquina a diesel e não a vapor. A viagem de ida-e-volta entre Régua e Tua custa 35 euros para adultos e 15 euros para as crianças dos cinco aos 12 anos, havendo reduções para grupos de dez ou mais pessoas. 

O passeio pode ficar mais barato se a própria deslocação até à Régua for feita pela CP, em qualquer tipo de comboio e desde qualquer ponto do país. A empresa oferece bilhetes combinados, que incluem o comboio histórico, com partidas do Norte, Centro, Alentejo e Sul, ao preço, respectivamente, de 40, 50, 60 e 70 euros por adulto.

Os passageiros do comboio histórico têm ainda descontos em unidades hoteleiras do Douro com quem a CP fez parcerias.

Sugerir correcção
Comentar