Um construtor e um produtor de espectáculos premiados por empreendedorismo

Prémio Diáspora, da Cotec, distingue anualmente portugueses no estrangeiro

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Cavaco Silva Nuno Ferreira Santos

O prémio, que distingue o empreendedorismo de portugueses no estrangeiro, foi entregue na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, numa cerimónia com o Presidente da República. Nesta sétima edição, houve 176 candidatos, de 37 países. Os vencedores recebem uma obra de arte. Na mesma cerimónia foram entregues os prémios FAZ - Ideias de Origem Portuguesa, que tem como requisito que um dos participantes viva no estrangeiro. A iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, apoiada pelo PÚBLICO, distinguiu projectos na área do empreendedorismo social, com um total de três premiados entre 10 finalistas e 63 candidaturas.

“O valor do prémio é o reconhecimento aos emigrantes que têm tido sucesso. O que eu contei é só o bom. No meio disto tudo passa-se muitas dificuldades”, disse Jorge da Costa, numa conversa telefónica com o PÚBLICO, em que acabara de explicar que o sucesso esteve longe de ser rápido. “Em 1981, eu e os meus quatro irmãos começámos uma companhia de construção. Começámos a construir habitações e seguimos essa actividade por alguns anos, até 1994. Mas não tivemos grande sucesso”. Decidiram mudar de rumo, pediram um empréstimo ao pai, e criaram a Improvon. Com sede em Joanesburgo, a empresa constrói espaços de armazéns e escritórios, que vende e aluga. Hoje, emprega cerca de 110 pessoas e tem um volume de negócio de 350 milhões de euros anuais.

O outro emigrante premiado pela Cotec tem uma história muito diferente. Ricardo Ribeiro, de 33 anos, produz espectáculos musicais. Neste momento, trabalha com a conhecida banda americana 30 Seconds to Mars. Há três anos, trabalhou com o lendário vocalista dos Rolling Stones, Mick Jagger, no espectáculo que este deu nos prémios Grammy. Ricardo Ribeiro considera este um dos pontos altos de uma carreira que começou com uma ida para Londres há mais de uma década.

“Em 2002, com o sonho de viver o mundo dos espectáculos e dos concertos, e de estar à volta das bandas, rodeado de artistas, consegui ir estudar para Londres”, conta Ricardo Ribeiro. Uma vez na cidade, precisava de um emprego e consegui-o no Astoria, uma icónica casa de espectáculos londrina, encerrada em 2009. Foi subindo na hierarquia até ser assistente do director de palco. No Astoria, conheceu artistas de renome e, quando o espaço fechou, tinha uma bagagem de experiências e contactos que o fez dar “o salto para os EUA”. Foi “uma coisa semi-calculada”, recorda. Nessa altura, começou a trabalhar para a banda brasileira Cansei de Ser Sexy e adoptou Los Angeles como cidade para morar. “Apaixonei-me pela cidade”, diz.

Actualmente, a empresa de Ricardo Ribeiro, chamada RDR Live, tem cerca de 60 pessoas e factura 57 milhões de euros por ano. Quando interrogado sobre as metas para o futuro, dá uma explicação simples: “O plano é sempre o mesmo. É agarrar em projectos. É a única definição de meta que há neste ramo.”

Um sumo que é “uma lição de vida”
É arquitecto, tem 35 anos, e chama-se Daniel Cunha. Mas o que Daniel conseguiu alcançar não o faz esquecer as dificuldades que uma pessoa com deficiência enfrenta no mercado de trabalho. As complicações no parto deixaram-no com problemas físicos para a vida. Voluntariou-se, por isso, para dar a cara pelo projecto Sumos Portugal, encabeçado pela também arquitecta Sara Carmo, de 27 anos, Piedade Colaço, engenheira civil de 27 anos, e Teresa Cunha, de 23 anos e a estudar medicina na República Checa. A ideia das três amigas para integrar deficientes no mercado de trabalho, colocando roulottes de venda de sumos naturais nas ruas das cidades, venceu o primeiro lugar do prémio Ideias de Origem Portuguesa, no valor de 25 mil euros, e que tem como requisito que um dos participantes viva no estrangeiro.

“A venda de sumos é um trabalho fácil de fazer e que se faz na hora. Mas as pessoas não levam apenas um produto quando comparem um sumo, levam uma lição de vida que pretende abrir as mentalidades mais fechadas e que não percebem a nossa riqueza”, explica Daniel, que salienta a vantagem de as pessoas poderem vir a trabalhar por conta própria, já que a ideia é que sejam autónomas. “Associamos estas pessoas a um produto procurado nos dias de hoje e que é saudável”, completa Sara, acrescentando que uma nutricionista adaptará os sumos de fruta e legumes às várias necessidades e que as próprias pessoas com deficiência serão seleccionadas para que se complementem.

O segundo prémio, no valor de 15 mil euros, foi entregue ao projecto Salva a Lã Portuguesa, das arquitectas Mafalda Pacheco e Egle Bazaraite, da engenheira de materiais Sara Lucas e do músico Filipe Raposo. A ideia é que a lã das ovelhas, até agora deitada fora, seja comprada aos produtores e que sejam formadas pessoas que saibam fiar. Depois, será criada uma loja online onde serão vendidos os novelos deste produto português que vai arrancar com lã merina e campaniça, proveniente de 35 ovelhas “recrutadas” no Alentejo. O objectivo é também incentivar as pessoas das várias zonas a que se autonomizem e que consigam transformar e vender os seus produtos respeitando as regras do comércio justo.

No terceiro lugar, com um prémio de 10 mil euros, ficou o trabalho Plantei.Eu, do engenheiro do ambiente e gestor de projectos Gualter Baptista, em conjunto com mais sete amigos. Gualter, de 34 anos, vive na Alemanha e tem como objectivo criar uma plataforma online onde as pessoas possam trocar sementes e encontrar todas as informações sobre a plantação das mesmas, numa espécie de Wikipédia para quem quer uma horta na varanda, no terraço ou mesmo numa vertente mais profissional. Uma couve-galega na Alemanha? Gualter garante que sim, que a couve aguenta até 15 graus negativos, e que é precisamente “este saber não partilhado” que quer divulgar em todo o mundo para contrariar a “perda enorme de diversidade agrícola a que assistimos, com 80% do mercado de sementes concentrado em seis empresas”.

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