EUA anunciam cortes de 30% no CO2 e China diz que vai impor limites
Dois anúncios quase simultâneos prometem novo fôlego às negociações para um novo tratado internacional para as alterações climáticas.
Barack Obama avançou com uma meta de 30% de redução das emissões de dióxido de carbono do sector eléctrico, até 2030. E a China acenou com um limite absoluto para as emissões a partir de 2016, embora sem dar detalhes.
Nos Estados Unidos, as medidas foram anunciadas na segunda-feira pela Agência de Protecção Ambiental (EPA, na sigla em inglês). Num documento de 645 páginas, a EPA define metas de redução de emissões para cada estado norte-americano. Em média, serão de 30% até 2030, em relação aos níveis de 2005.
O plano deixa a cada estado a responsabilidade de encontrar o melhor caminho para atingir as suas metas – o que poderá envolver alternativas às centrais térmicas a carvão, mecanismos de comércio de emissões ou até taxas de carbono. Cada estado terá até 2016 para apresentar a sua estratégia.
Em média, 38% da electricidade produzida nos Estados Unidos vêm de centrais a carvão – o combustível fóssil que mais emite CO2. Mas alguns estados são mais dependentes desta fonte energética do que outros.
“A flexibilidade do nosso Plano para Energia Limpa permite aos estados fazerem as escolhas que os conduzam a um futuro saudável", disse a administradora da EPA, Gina McCarthy.
Tanto a EPA, quanto o próprio Presidente Barack Obama frisaram em primeiro lugar a questão da saúde, ao falarem do impacto do corte nas emissões de CO2 – e, paralelamente, de poluentes como o dióxido de enxofre e partículas. O plano promete evitar 6600 mortes prematuras e 150.000 ataques de asma.
“Nos Estados Unidos, não temos de escolher entre a saúde da economia e a saúde dos nossos filhos”, disse Barack Obama, numa conferência telefónica promovida pela associação norte-americana para a saúde pulmonar, a American Lung Association.
Obama decidira, há um ano, regulamentar a questão do CO2 nas centrais eléctricas a partir de normas de EPA, que estão directamente sob a sua jurisdição, depois de ter visto falhar no Senado, há quatro anos, uma proposta de lei que introduziria um regime nacional de comércio de emissões.
O plano agora apresentado mereceu críticas de líderes republicanos e também da indústria, pelo alegado risco de encerramento de empresas ou de aumento do preço da electricidade. Mas alguns vêem nos planos da EPA válvulas de escape, a começar pelo facto de já ter havido uma redução de 10% das emissões entre 2005 e 2013.
Para a comissária europeia da Acção Climática, Connie Hedegaard, o plano de Obama é “a mais importante acção anunciada até agora pelos Estados Unidos para combater o aquecimento global”. Hedegaard diz porém que todos os países, incluindo os EUA, “devem fazer mais”.
“Eu espero que as medidas dos Estados Unidos incentivem outros a adoptarem acções concretas”, disse Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.
A China já se adiantou. Esta terça-feira, o presidente da Comissão Consultiva para as Alterações Climáticas, He Jiankun, disse que o país fixará um tecto máximo de emissões de CO2 a partir de 2016. Numa conferência em Pequim, Jiankun disse, sem detalhar, que a ideia constará de um plano quinquenal que entrará em vigor naquela data. No entanto, até 2030 as emissões continuarão a subir no país, que já é o que mais lança CO2 para atmosfera.
As novas medidas foram anunciadas às vésperas de mais uma ronda negocial das Nações Unidas para um novo tratado climático global, que começa esta quarta-feira em Bona, na Alemanha. No calendário da ONU, até ao final do próximo ano deverá ser tomada uma decisão sobre o novo tratado, para vigorar a partir de 2020.