E aos 46 anos, Felipe chega ao trono espanhol
A sua missão é assegurar a continuidade de uma monarquia parlamentar instaurada progressivamente com a chegada ao trono de Juan Carlos.
Estudos no estrangeiro, formação militar: “O seu objectivo, o seu único objectivo, é servir a Espanha. Foi-lhe inculcado, no seu eu profundo, que deveria tornar-se o primeiro servidor”, confiou um dia a sua mãe, a rainha Sofia.
A sua missão é assegurar a continuidade de uma monarquia parlamentar instaurada progressivamente com a chegada ao trono de Juan Carlos, designado pelo ditador Francisco Franco como seu sucessor.
O seu grande desafio: convencer, num país em que o apoio popular à monarquia está num nível historicamente baixo depois de uma série de escândalos que, no entanto, o pouparam.
O rosto sério mas sorridente, de aparência mais reservada que o seu pai, o príncipe herdeiro sofre desde há muito com as comparações com Juan Carlos, já que em Espanha muitos preferem descrever-se como “juancarlistas” e não como “monárquicos”.
Mas o episódio da caça ao elefante no Botswana de Juan Carlos, em Abril de 2012, muito controverso numa Espanha mergulhada em crise, e a investigação de corrupção da sua filha Cristina e do marido, Iñaki Urdangarin, diminuíram a popularidade do rei.
Ao mesmo tempo, a do príncipe melhorou. “Está prestes a estabelecer-se um certo equilíbrio entre os dois”, sublinhou no início de 2013 António Torres del Moral, professor de direito constitucional.
O elegante Felipe – 1,98 metros e olhos azuis – tem cultivado uma imagem de proximidade e modernidade. Um par ajudado pelo seu casamento, em 2004, com Letizia Ortiz, jornalista e divorciada, uma grande estreia na história da monarquia espanhola. Felipe e Letizia têm duas filhas: Leonor, nascida em Outubro de 2005, e Sofia, em Abril de 2007.
A família tem vivido longe do fausto, numa moradia que Felipe mandou construir no parque do Palácio da Zarzuela, perto de Madrid.
Felipe nasceu na capital espanhola a 30 de Janeiro de 1968. A lenda diz que Juan Carlos desmaiou com o anúncio do nascimento do seu único herdeiro (homem) depois do nascimento das suas filhas Elena (1963) e Cristina (1965). Os monárquicos tinham enfim o seu futuro rei – até recentemente, a Constituição espanhola dava preferência aos homens no processo de sucessão.
Um papel crescente
Em 1977, com nove anos, Felipe recebe o título de príncipe das Astúrias e é oficialmente o herdeiro da coroa espanhola. O rapaz, de cabelo ainda louro, fez então o seu primeiro discurso perante o Parlamento.
Quatro anos mais tarde, aprende a sua primeira lição aquando da tentativa de golpe do coronel Antonio Tejero, que sacraliza o rei como bastião da democracia espanhola. O seu pai chamou-o para perto de si – “Quis que ele estivesse ao seu lado no seu gabinete, para o ver agir”, explicou a rainha Sofia à jornalista Pilar Urbano, no seu livro A Rainha.
Depois de um último ano de liceu no Canadá, Felipe passa, de 1985 a 1988, pelas escolas militares dos três ramos das Forças Armadas espanholas. Estuda também Direito na Universidade Autónoma de Madrid e Relações Internacionais na Universidade de Georgetown em Washington, EUA.
À medida que os anos passavam, foi assumindo um papel protocolar cada vez maior e multiplicando as suas actividades públicas, nomeadamente no estrangeiro onde beneficiava do seu bom domínio do inglês.
Felipe fala também muito bem catalão, uma vantagem especial numa região com aspirações nacionalistas reforçadas com a crise económica e com relações tensas com Madrid.
Desde a Primavera de 2010, Felipe reforçou ainda mais a sua presença oficial quando Juan Carlos se afastava por problemas recorrentes de saúde.
Piloto de helicóptero, apreciador de futebol, Felipe é ainda muito desportista, na tradição familiar. Participou mesmo nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, integrando a equipa de vela.