Mais praias premiadas e muitas obras marcam arranque da época balnear

Praias fluviais gradualmente evidência. Mas ainda não têm o mesmo desempenho, em termos de qualidade, das do litoral. Das 97 zonas balneares interiores classificadas pela Agência Portuguesa do Ambiente, 28 vão poder ostentar o símbolo de “qualidade ouro” da Quercus – ou seja, 29%. A taxa de sucesso das praias do litoral é muito maior: 73%

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A bandeira azul – outro galardão de qualidade, da Fundação para Educação Ambiental e gerido em Portugal pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE) – poderá ser hasteada em 298 praias.

Cerca de 95% das zonas balneares do país, no litoral e no interior, cumprem os critérios mínimos de qualidade para banhos, enquanto 86% têm qualidade “excelente”.

Para muitos banhistas, porém, a sua praia preferida não estará para já à altura do que se esperava. Os temporais do Inverno passado provocaram enormes danos. O mar destruiu paredões, esporões e acessos, e fez desaparecer a areia em muitos pontos do litoral.

A dificuldade em se avançar rapidamente com obras de reparação coloca em risco o hasteamento da bandeira azul nalgumas praias. Há pelo menos uma dezena nesta situação: Moledo (Caminha), Fão-Ofir (Esposende), Amorosa e Norte (Viana do Castelo), Cortegaça e Furadouro (Ovar), Barra (Ílhavo), Pedrógão-Centro (Leiria), Paredes de Vitória (Alcobaça) e CDS-Santo António (Almada).

Para essas praias, o prazo para o hasteamento da bandeira azul, que normalmente termina no final de Junho, foi alargado até 15 de Julho. Mas a extensão será avaliada “caso a caso, em situações devidamente justificadas”, afirma José Archer, presidente da ABAE.

Não são obras quaisquer. Na Costa da Caparica e em São João da Caparica, a sul de Lisboa, é necessário não só reconstruir pesadas estruturas de protecção, como realimentar as praias com um milhão de metros cúbicos de areia – o que equivale a 40.000 camiões basculantes.

A Agência Portuguesa do Ambiente, na sua página na Internet, promete “perturbar o mínimo possível os utentes das praias e as actividades económicas a elas associadas”. Mas é improvável que operações daquela dimensão sejam compatíveis com a normalidade numa zona balnear.

“Já houve vários anos com intervenções deste género, mas não nesta extensão”, diz José Archer. Se algumas dessas bandeiras não foram hasteadas, não será porém facto inédito. No ano passado, nove praias que tinham recebido o galardão não chegaram a exibi-lo, por vários motivos.

A cerimónia oficial do hasteamento das bandeiras azuis decorre este domingo, na praia Norte, Póvoa de Varzim. A data coincide com a que se costuma atribuir ao início da época balnear. Mas os municípios podem sugerir outros períodos e, na verdade, é o que a maioria faz. Do total de zonas balneares designadas este ano, 53 já começaram a época balnear, 175 iniciam-na hoje e 329 escolheram datas posteriores.

A escolha tem a ver com a expectativa de afluência às zonas balneares e determina o período em que as praias estão sujeitas a um controlo regular da qualidade da água. Em Cascais, por exemplo, a época começou a 1 de Maio. Em Albufeira, no Algarve, o início foi a 17 de Maio e a estação prolonga-se até 19 de Outubro. É a época balnear mais longa, com 155 dias.

A estação mais curta tem apenas um mês – de 1 a 31 de Agosto – e é a da Cascata da Cabreia, no rio Mau, em Sever do Vouga. É também a que começa mais tarde.

As zonas balneares do interior – como praias fluviais, margens de albufeiras ou piscinas naturais – ganham gradualmente evidência. Mas ainda não têm o mesmo desempenho, em termos de qualidade, das do litoral. Das 97 zonas balneares interiores classificadas pela Agência Portuguesa do Ambiente em 2013, 28 vão poder ostentar o símbolo de “qualidade ouro” da Quercus – ou seja, 29%. A taxa de sucesso das praias do litoral é muito maior: 73%.

Para ser premiada com o “ouro”, uma praia tem de ter, durante cinco anos consecutivos, a classificação máxima da qualidade da água – que correspondia a “boa” até 2009 e “excelente” desde 2010. É um critério mais apertado do que o das normas europeias e nacionais, que exigem bons resultados ao longo de quatro anos.

O objectivo da Quercus é “prestigiar as praias que de uma forma muito consistente têm tido água de qualidade excelente”, segundo Francisco Ferreira, dirigente da associação. “Isto valoriza muito a escolha das pessoas quanto às zonas balneares que querem frequentar”, completa Ferreira.

O número de praias de qualidade de ouro tem vindo a subir ano a ano. Começaram por ser 87 em 2003, duplicaram para 169 em 2004 e no ano passado tinham chegado a 336. Agora, 43 novas praias ascenderam à lista e 24 deixaram de nela figurar, elevando o total a 355.

Na prática, aproximadamente duas em cada três praias designadas oficialmente como “águas balneares” em Portugal têm o galardão da Quercus.

A maioria das praias de ouro – 244 (69%) – também hasteará a bandeira azul este ano, que é um símbolo de qualidade mais exigente, pressupondo o cumprimento de 32 critérios. Quando o programa da bandeira azul foi lançado, em 1987, foram galardoadas 71 praias. Agora, são quatro vezes mais.

O facto de haver cada vez mais bandeiras azuis e praias “ouro” mostra que a qualidade da água está longe de ser um grande problema, como o era há apenas duas décadas. Mas nem tudo é um mar de rosas. No ano passado, a ABAE recebeu inúmeras queixas de excesso de lixo no areal. Com a crise, as autarquias tiveram menos recursos para fazer a limpeza como era exigido.

E para a Quercus, ainda há muito a fazer nas zonas balneares longe da costa. “É um caso de sucesso no litoral, mas ainda falta ser um caso de sucesso nas praias interiores”, alerta Francisco Ferreira.

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