Cinco detidos pelo apedrejamento até à morte de paquistanesa

Farzana Parveen, grávida de três meses, foi morta por um grupo de homens, que incluía o seu pai, tio e primos.

Foto
O marido de Farzana também admitiu ter beneficiado de um acordo com a família da sua primeira mulher, que matou, para evitar a prisão Mohsin Raza/AFP

Na última terça-feira, o mundo ficou chocado com mais um caso de morte por apedrejamento de uma mulher em nome da honra da sua família. Farzana esperava pela abertura do tribunal em Lahore, quando foi cercada por um grupo de cerca de 20 homens, entre eles o pai, dois irmãos e um antigo noivo. Os homens apedrejaram-na e Farzana morreu perante familiares e a polícia. O pai da jovem admitiu depois às autoridades ter contribuído para a morte da filha, por honra da família. A paquistanesa chegou a estar noiva de um primo, num casamento arranjado pela família, mas recusou a imposição e decidiu casar-se com o homem que amava, o que segundo uma tradição paquistanesa desonra os seus familiares.

O primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif, exortou agora as autoridades de Penjab, província que tem como capital Lahore, que tomem “medidas imediatas” quanto ao “crime totalmente inaceitável” ocorrido “perante a polícia”. O chefe do governo local de Penjab, Shahbaz Sharif, irmão do primeiro-ministro, anunciou, pouco depois, que foram acelerados procedimentos judiciários no caso colocado sob a autoridade da lei antiterrorismo.

A polícia paquistanesa declarou, entretanto, esta sexta-feira que deteve quatro homens suspeitos de terem participado na morte da jovem, além de ter feito a detenção, na terça-feira, do pai de Farzana. Um tio e dois primos da mulher e um motorista foram detidos, segundo um responsável pela investigação, Zulfiqar Hameed, que falou à AFP.

Com base na lei paquistanesa, os casamentos forçados e os crimes de honra devem ser penalizados. Porém, a força de tradições e interpretações secundárias da lei violam o que é instituído legalmente. Estima-se que perto de mil casos semelhantes ao de Farzana se registem todos os anos no Paquistão.

Viúvo de Farzana matou a primeira mulher
O caso da jovem paquistanesa além de provocar indignação teve um desenvolvimento bizarro nos últimos dias. O marido de Farzana, Mohammad Iqbal, de 45 anos, apelou à Justiça no caso da mulher e à condenação da sua família. Porém, segundo Mohammad, ele próprio cometeu um crime, há seis anos, contra a sua primeira mulher. “Estava apaixonado por Farzana e foi por causa desse amor que matei a minha primeira mulher, por estrangulamento”, admitiu numa conversa telefónica com a AFP.

A filha de Mohammad e da primeira mulher apresentou queixa contra o pai, que chegou a estar preso, mas que saiu pouco depois em liberdade após ter chegado a um acordo com a família da vítima. O homem foi perdoado por ter pago o que no Paquistão se chama “dinheiro de sangue”, uma solução na qual o homicida escapa à Justiça se pagar uma compensação à família da vítima.

Após a sua libertação, o paquistanês convenceu Farzana a casar-se com ele, mas, segundo Mohammad, a família da noiva exigia o pagamento de um elevado dote, proposta que foi recusada. O casamento aconteceu e surgiu a acusação contra a jovem de que tinha desonrado a família.

Indignação da comunidade internacional
O caso de lapidação está a indignar a comunidade internacional. Os EUA, Reino Unido e a ONU já se manifestaram e exigiram que os crimes de honra sejam punidos.

De Washington, a porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki, fez saber que os autores da morte de Farzana “devem ser levados perante a Justiça”, tal como os que cometeram o mesmo crime “hediondo” em dois outros casos, na mesma semana, no Paquistão.

O chefe da diplomacia britânica, William Hague, afirmou-se “entristecido” com a “morte atroz” da jovem e pediu a Islamabad que tome medidas urgentes contra esta prática. “Não há absolutamente nada de honroso nos crimes de honra e apelo ao Governo paquistanês para fazer tudo o que está no seu poder para erradicar esta prática bárbara”, reforçou.

Sugerir correcção
Comentar