O futuro de África discute-se em Maputo “sem paternalismos”
Christine Lagarde marcou o início da conferência África em ascensão, sublinhando que ainda é preciso apostar na inclusão.
Recordando o último evento desta dimensão, que ocorreu na Tanzânia em 2009, e onde foi discutida a forma de proteger o continente africano da crise financeira que rebentou nos EUA, Lagarde assinalou que “muito foi feito” dessa altura.
Falando para os presentes na sala, altos representantes dos países da África subsariana, afirmou, na sessão de boas-vindas, que estes “geriram melhor a crise [financeira] do que muitas das economias avançadas” — frase que foi recebida com vários acenos de cabeça, em concordância —, devido às políticas e medidas macroeconómicas implementadas, gerando taxas de crescimento económico “apenas comparáveis às de alguns países asiáticos”.
Próxima etapa: a inclusão
De seguida, quando Lagarde olhou para o futuro, e não para o passado, o discurso chegou à parte dos vários desafios que ainda perduram: “Os próximos passos que têm de ser dados passam por, com base no crescimento alcançado, garantir que ele é inclusivo e sustentável”, sublinhou.
Para a directora-geral do FMI, conforme um comunicado divulgado por esta instituição, a pobreza extrema em África ainda é demasiado elevada e há novos desafios colocados pela economia global, como a desaceleração do crescimento chinês. “Agora é o momento de olhar para as políticas que irão conduzir a região para o próximo nível do seu desafio económico”, destacou Lagarde.
Segundo afirmou a directora-geral do FMI em Maputo, este encontro é o momento certo “para comparar apontamentos”, e onde os participantes “devem ouvir-se uns aos outros e dialogar”. A ideia, disse, não é haver “paternalismos”, nem pretender que o FMI sabe “mais do que os outros”, mas antes perceber como é possível “trabalhar em conjunto”. “O FMI estará ao vosso lado para ajudar, para fornecer o apoio técnico que for necessário”, garantiu.
De acordo com os dados do FMI, o crescimento da África subsariana deverá atingir os 5,4% este ano e chegar aos 5,5% em 2015. Se se excluir a África do Sul, os números passam para os 6,5%. Em termos gerais, a África subsariana é uma região onde há crescimento económico, mas este é suportado pelos crescimentos naturais, com destaque para o petróleo. Onde os grandes projectos impulsionam o Produto Interno Bruto mas criam poucos empregos. Onde há riqueza acumulada mas esta demora a chegar às populações.
Guebuza prepara visita a Portugal
Sobre Moçambique, Lagarde, que se reuniu com o Presidente da República, Armando Guebuza, realçou a necessidade da transparência numa fase em que Moçambique começa a tirar os primeiros proveitos dos seus recursos naturais, como o carvão e o gás natural. No âmbito de uma sessão de perguntas com estudantes da Universidade Eduardo Mondlane, Lagarde afirmou, citada pela agência Lusa, que "a transparência é um factor crítico para que as pessoas possam saber quais os contratos assinados, de quanto tempo são as concessões, quais são os royalties, quais são os impostos e para onde é que vão".
Numa altura em que a Frelimo (partido no poder) e a Renamo ainda não chegaram a um acordo para cessar as hostilidades, e a poucos meses do seu último mandato presidencial, Guebuza estará novamente ao lado de Lagarde quando os dois proferirem os discursos oficiais que marcam o início da conferência, esta quinta-feira de manhã. Poucos dias após o fim da conferência, e segundo informações recolhidas pelo PÚBLICO, Guebuza deverá iniciar uma visita oficial a Portugal, acompanhado de uma comitiva, embora as datas ainda não estejam fechadas.
Pela conferência África em ascensão irão passar mais de 300 participantes, desde ministros das Finanças de países africanos e governadores de bancos centrais, passando por representantes de países como a China (grande cliente de recursos naturais e fornecedor de avultados empréstimos) e de empresas privadas, financeiras e não financeiras, até responsáveis de ONG. Entre os oradores estão personalidades como Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, Peter Sands, presidente executivo do Standard Bank, Wang Yong, vice-presidente do Fundo de Desenvolvimento China-África, e Luciano Siani, administrador financeiro da Vale, empresa brasileira de mineração.
Portugal também está representado, através do secretário de Estado adjunto e da Economia. Leonardo Mathias, que tem tido diversos encontros bilaterais e no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), vai ser um dos oradores do painel dedicado às questões do financiamento.
O jornalista viajou a convite do FMI