Presidentes palestiniano e israelita aceitam convite do Papa para diálogo no Vaticano
Em Belém, Francisco foi directo ao processo de paz. Abbas vai ao Vaticano a 6 de Junho, Perez ainda não confirmou a data.
“Neste lugar onde nasceu o príncipe da paz, desejo fazer um convite que lhe é dirigido a si, presidente Mahmoud Abbas, e ao senhor Presidente Shimon Perez, para juntos e comigo rezarem a Deus pelo dom da paz. Ofereço a minha casa, no Vaticano, para acolher essa oração. Todos nós desejamos a paz; muitas pessoas constroem-na todos os dias com pequenos gestos, muitos sofrem e suportam pacientemente o esforço de outros na tentativa de a construir. E todos, especialmente os que estão ao serviço do povo, temos o dever de ser instrumentos da paz, antes de mais através da oração”, disse o Papa que ofereceu o Vaticano como território da diplomacia israelo-palestiniano, ainda que sublinhando que é um espaço de oração.
O convite foi rapidamente aceite pelas dua partes. "Damos as boas vindas ao convite para ir ao Vaticano. O Presidente Peres sempre apoiou e continuará a apoiar as iniciativas de paz", disse a presidência israelita em comunicado citado por The Washington Post.
Nabil Abu Rudeina, o porta-voz de Mahmoud Abbas, disse que o presidente da Autoridade Palestiniana irá ao Vaticano no dia 6 de Junho. Do lado de Perez, porém, ainda não há confirmação desta data.
Este convite histórico chega quando as negociações, que têm sido mediadas pelos Estados Unidos, voltam a estar paradas –– foram suspensas por Israel depois do entendimento entre as duas facções palestinianas, o Hamas e a Fatah (de Abbas); Washington considerou o acordo prejudicial à paz e a Casa Branca anunciou que era o momento de diminuir a sua intervenção e deixar que fossem israelitas e palestinianos a tomarem, agora, decisões.
Depois do encontro com Abbas, na manhã deste domingo, o Papa Francisco reuniu, à tarde, com o Presidente e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Telavive. Netanyahu tem sido um duro crítico dos políticos israelitas que defendem a continuação das conversações com Abbas devido à aproximação deste ao Hamas, que Israel (e os Estados Unidos) mantém com a classificação de grupo terrorista. A última iniciativa de paz, liderada pelo secretário de Estados dos EUA John Kerry, vinha a enfraquecer depois da continuação da construção por Israel de colonatos nos territórios ocupados, mas o final foi ditado precisamente por este entendimento entre Fatah e Hamas, que Israel recusa.
O Governo israelita não gostou que, na preparação desta viagem, o Papa se tivesse referido ao “Estado palestiniano”. Tão pouco foi do seu agrado que Francisco tivesse optado por entrar na Cisjordânia (ido da Jordânia, onde no sábado agradeceu ao rei Abdullah o apoio que o seu país está a dar aos refugiados da guerra na Síria), sem passar primeiro por Israel. Apesar de o Vaticano ter insistido que esta peregrinação do Papa não deveria ter uma leitura política, a verdade é que o Papa argentino não se inibiu de passar mensagens, através de gestos e de palavras – sobre os colonatos israelitas disse que são "inaceitáveis".
Em Belém, Francisco foi muito claro ao falar “no direito dos dois estados de existirem e conviverem em paz”. Depois, e noutro gesto surpreendente, percorreu o muro de betão d eoito metros de altura edificado pelos israelitas e que separa Israel da Cisjordânia – atravessando território palestiniano, viola o traçado da linha verde que separa os dois territórios acordada em 1967. Francisco saiu do carro e fez alguns metros a pé, antes de parar em recolhimento durante alguns minutos.
"É um acto de grande significado esta paragem no muro", disse à AFP Farid Abu Mohor, que vive em Beit Jala, onde o muro ameaça o acesso a terras agrícolas palestinianas.
Em Belém, o lugar onde nasceu Jesus (na Praça da Manjedoura), milhares de peregrinos cristãos, oriundos de muitas cidades palestinianas, manifestaram o seu apoio a Francisco. "Ele é diferente dos outros papas no campo humanitário e pode trazer mudanças visíveis", disse à AFP Ibrahim Handal. "Possa ele contribuir para o fim da ocupação [israelita] e trazer a paz. A fé move montanhas".