Cerca de 5% dos patrões em Portugal são estrangeiros

Chineses e brasileiros são os mais empreendedores entre a população estrangeira, com taxas de realização superiores à dos portugueses.

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Os chineses são a comunidade mais empreededora em Portugal Público

Os dados trabalhados são do Censos de 2011 e o que permitem concluir é que, em termos relativos, o empreendedorismo aumentou mais na população estrangeira do que na nacional, na qual até houve uma diminuição, refere a autora do artigo, Catarina Reis Oliveira, coordenadora do Gabinete de Estudos e Relações Internacionais do Alto Comissariado para as Migrações.

A importância relativa dos empregadores estrangeiros no total de empregadores do país aumentou nas últimas décadas, de 1,4% em 1981 para 4,2% em 2001 e 5,2% em 2011, em termos absolutos passou-se de 1811 empregadores estrangeiros (em 1981) para 23.697 à data do Censos. Mas enquanto que os empregadores estrangeiros aumentaram 15% entre 2001 e 2011, durante esse período os empregadores portugueses diminuíram em 7%.

“Os estrangeiros estão em contra-corrente”, refere a autora, para explicar que há factores que ajudam a explicar este fenómeno. Para a diminuição do número de empregadores portugueses contribui a situação económica do país e o consequente encerramento de empresas. Do lado dos estrangeiros este aumento é também resultado de alterações legislativas que vieram promover uma imigração com este perfil, explica a autora.

A legislação nesta área mudou em 2007, mas já em 2005 houve mudança de regras: enquanto antes dessa data se davam vistos de trabalho e autorizações de permanência – para poderem tornar-se empresários tinham que passar no país períodos que iam dos três aos cinco anos – depois passaram a ser concedidas autorizações de residência, o que permitia o acesso à criação da própria empresa sem aquele compasso de espera, explica.

O estudo define um empregador como “indivíduo que exerce uma actividade independente e que emprega um ou vários trabalhadores”.

Entre as comunidades estrangeiras que mais se destacam está claramente a chinesa: “42,5% da sua população activa são empregadores”. Os chineses apresentam as taxas de empreendedorismo mais elevadas em Portugal – 22,2% em 1981 e 42% em 2011, por comparação com 12,1% de empregadores estrangeiros para o total de estrangeiros, situando-se a percentagem de portugueses que são patrões, face à respectiva população activa, em 10,5%, refere o estudo.

E se na década de 1990 os chineses tinham a sua actividade sobretudo concentrada na restauração, proliferaram depois as chamadas “lojas dos trezentos”, assistiu-se mais recentemente a uma diversificação, diz a investigadora. A autora nota que os estrangeiros investem muitas vezes em áreas que os portugueses estão a abandonar, caso das frutarias e das mercearias, dando o exemplo da avenida Almirante Reis, em Lisboa, onde estes estabelecimentos estão na sua maioria nas mãos de asiáticos. “É a imigração que agarra este espaço que vem a ser deixado pelos portugueses”.

Catarina Reis Oliveira diz que, à primeira vista, até pode parecer que são negócios familiares que não empregam portugueses mas lembra que, para funcionarem, têm, por exemplo, que contratar um contabilista para lhes organizar as contas, para se formalizarem tiveram que arranjar um advogado e isso conta como criação de emprego. Os chineses representam 30% dos empregadores estrangeiros. A seguir na lista em termos de percentagem surgem os brasileiros que, por serem a comunidade mais numerosa, são na prática quem tem maior número absoluto de patrões: em 2001 eram 7258.

Os empregadores brasileiros e chineses juntos representam 44% do total de empregadores estrangeiros no país, que estão sobretudo concentrados nos municípios da área metropolitana de Lisboa e no Algarve: em Lagos representam 21,8% do total de empregadores do município.

Os empregadores chineses estão muito associados à actividades do comércio por grosso e a retalho (82,4%); nos empregadores brasileiros há maior diversidade de actividades, ainda que com alguma concentração em actividades do alojamento e restauração (21,3%).

E depois de 2011, o que aconteceu a estes imigrantes? Catarina Reis Oliveira está convencida de que esta população de imigrantes não faz parte dos que saíram do país nos últimos anos por causa das crise. “Este perfil de população acredito que tenha estabilidade e que se mantenha no país”. A investigadora ressalva que estes números não incluem ainda os chamados vistos gold, criados em 2012 para atrair investimento estrangeiro, embora se tenha verificado que estão a ser concedidos sobretudo para aquisição de casas, mais do que para a criação de empregos.

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