Associação de Luta Contra o Cancro do Intestino contesta norma clínica e exige rastreio populacional
Direcção-Geral da Saúde pôs à discussão pública norma clínica que prevê de exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes a pessoas dos 50 a 74 anos
A norma clínica que foi posta à discussão pública no final de Março prevê que o médico prescreva este tipo de exame e que, no caso em que os testes dão positivos, este comunique “à chefia se uma colonoscopia não for realizada em 8 semanas”. O coordenador do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, Nuno Miranda, diz ao PÚBLICO que até agora não havia qualquer tipo de directriz e que os médicos agiam de acordo com os seus critérios. O responsável afirma que a criação desta norma não exclui a criação de um programa nacional de rastreio, estando cada administração regional de saúde a fazer um balanço sobre o tipo de custos que teria a sua implementeção.
Já há pelo menos dez anos que o planos nacionais oncológicos prevêem a criação de um programa nacional de rastreio do cancro do intestino, à semelhança do que está previsto para o cancro do colo do útero e da mama, que ainda não existem em todos o território nacional. Já no plano de 2001-2005 preconizava-se “a pesquisa de sangue oculto nas fezes no grupo etário dos 50 aos 74”, depois no documento de 2007-2010 fala-se “na implementação em pelo menos um centro de saúde de cada administração regional de saúde até final de 2009”. Ponto da situação? Existem apenas três projectos-piloto, um no Alentejo, um na Região Centro e outro em três freguesias de Lisboa, admite Nuno Miranda.
A Europacolon contesta o tipo de rastreio à doença proposto na norma clínica da Direcção-Geral da Saúde: “O rastreio oportunístico proposto já existia e era ineficaz. Parece-nos redutor e enganador que se continue a deixar na dependência da boa vontade dos médicos dos cuidados de saúde primários o convite não organizado a que os doentes, que vão à consulta por outra razão, façam o rastreio”, defendeu em declarações à agência Lusa o presidente da Europacolon, Vítor Neves.
O responsável considerou como “demasiado cruel”, que não se faça em Portugal um rastreio organizado de base populacional para o cancro do intestino. Vítor Neves lembrou que o cancro do intestino mata em Portugal quase quatro mil pessoas por ano, ao mesmo tempo que surgem oito mil novos casos. Para esta associação, que junta doentes e médicos, esta norma apenas reintroduz uma medida que já existe e que não está a funcionar.
O que a associação defende é um rastreio organizado, em que os centros de saúde convocam especificamente os utentes numa determinada faixa etária para realizarem, anualmente, o exame ao sangue oculto nas fezes. Em caso positivo, esses doentes devem fazer colonoscopia de forma imediata. Caso não seja possível avançar com rastreio de base populacional ao mesmo tempo a nível nacional, o investigador Manuel Sobrinho Simões, que pertence aos órgãos sociais da associação, defende que seja aplicado de forma faseada, segundo uma nota da Europacolon, cita a Lusa.
O director para o Programa das Doenças Oncológicas explicou que dos três cancros em que os programas de rastreio do cancro na população mostraram ser eficazes (colo-rectal, mama e colo do útero) é este o de mais difícil implementação. Desde logo, porque abrange maior número de pessoas, significaria que, pelas suas estimativas, poder-se-ia estar a falar da necessidade de 37.500 colonoscopias, necessárias depois de análises que dão positivo à pesquisa de sangue nas fezes (a primeira parte do rastreio), notando que só cerca de dois a cinco por cento dos testes onde há detecção de sangue são verdadeiros casos de cancro.