PS decreta o fim do “tempo do protesto” e inaugura o “tempo do projecto”
Socialistas juntaram-se no Porto para comício. Abstenção foi alvo nas intervenções dos dirigentes do partido.
Seis discursos nos quais se apelou ao voto de forma estridente. Mas para lá dos ataques ao Goveno, o que uniu as intervenções foi a identificação da abstenção como o principal adversário à “vitória clara” que o secretário-geral e o cabeça de lista vêm pedindo nas últimas semanas.
Ainda antes do comício já estava na rua uma sondagem que dava conta do aumento da abstenção nas europeias. Embora no início do seu discurso o líder socialista saudasse a “onda de mudança que está a crescer”, a verdade é que encerrou a iniciativa apelando aos que ainda não tinham entrado na “onda”. “A abstenção não muda nada, a abstenção é que deixa tudo na mesma. Não basta votar contra o Governo. É preciso derrotar o Governo - e só o PS poderá derrotar o Governo", insistiu António José Seguro na Praça Dom João I.
Não foi o único. O cabeça de lista do PS dramatizou o momento. “Não é só o PS que tem uma responsabilidade histórica, mas também o país”, avisava Francisco Assis antes de explicar porque os eleitores não podiam ficar em casa: “Só o voto no PS permite pôr fim a este descalabro. Há um tempo para o protesto e há um tempo para o projecto.”
A recandidata Elisa Ferreira deu corpo à ideia. "Podemos ficar em casa, quando vemos que os nossos filhos são obrigados a emigrar para procurar emprego? Podemos ficar em casa, quando os nossos pais ou avós são obrigados a penhorar as poucas jóias que receberam dos antepassados? Podemos ficar em casa, quando há crianças a ir para a escola com fome? Podemos ficar em casa, quando fecham sucessivamente empresas aqui na região do Porto?", perguntava a eurodeputada socialista.
Também o líder da Juventude Socialista apontou as baterias à abstenção, que classificou como a “inimiga das nossas causas”.
Ali, na praça portuense, a abstenção não parecia ter adeptos. Os apoiantes gritaram “não”, quando Seguro lhes perguntou se queriam “que tudo ficasse na mesma na Europa e em Portugal”.
O problema é que o ajuntamento não era assim tão numeroso que pudesse justificar uma “onda”. A estrutura montada pelo PS – cadeiras de frente para o palco com quatro bancadas de cinco fileiras em forma de meia-lua - não ocupava toda a praça, deixando espaço dos lados e atrás. O espaço entre bancadas e palco ficou repleto de apoiantes de pé. Por trás da amurada do edífico do antigo BPA também havia apoiantes encostados. Mas o resto da praça ficou vazio durante o comício.
O que faltou em gente sobrou, no entanto, em decibéis. O empenho aparelhístico resultou numa mão-cheia de grupos de bombos, uma fanfarra, ranchos folclóricos e cabeçudos. Durante a hora anterior aos discursos ouviu-se bem alto o “sobressalto musical” que o speaker pedia. Resta saber se bastará para o PS mobilizar as pessoas que estavam mais inclinadas a “ficar em casa” no dia 25 de Maio.