Na Europa assustada e revoltada, Le Pen e Farage somam votos
Sondagens deixam já pouca margem para dúvida. Partidos xenófobos e populistas preparam-se para vencer eleições europeias no Reino Unido e em França.
As sondagens em França não se alteraram muito desde o início da campanha e, como escreveu na semana passada o jornal Le Point, “a questão já não é saber se a FN vai ganhar, mas que vantagem terá para o partido que ficar em segundo lugar”.
Os últimos estudos atribuem ao partido de Le Pen entre 24 a 25% dos votos, mostrando a União para o Movimento Popular (UMP, direita) de Jean-François Copé em ligeiro recuo, para os 21%. Penalizado pela impopularidade do Presidente François Hollande e pelos fracassos do seu Governo, os socialistas franceses não deverão conseguir mais do que 17 a 18% dos votos.
Mas se os números não espantam face ao que tem sido o registo recente do partido de extrema-direita (a FN conquistou 12 municípios nas eleições de Março) tornam-se mais difíceis de explicar quando confrontados com outros indicadores.
Uma sondagem divulgada na semana passada pelo jornal Le Parisien indica que 79% dos franceses se opõem à saída do euro, o cavalo de batalha de Le Pen desde 2012, e 81% dizem mesmo que se trata de uma proposta sem credibilidade. O mesmo estudo indicava que, apesar do sucesso do seu partido, dois em cada três franceses continua a ter uma opinião negativa de Marine Le Pen e três em cada quatro não confiariam nela para governar o país. 77% classificam as suas posições políticas como sendo de extrema-direita e 60% vêem-na como racista – dois rótulos que sempre negou.
Uma possível explicação para este paradoxo poderá estar numa outra sondagem, divulgada no domingo, pelo Journal du Dimanche, segundo a qual metade (49%) dos franceses estão descontentes com a União Europeia – um veredicto que é ouro sobre azul para Le Pen, que desde o início da campanha, tem multiplicado frases como “a Europa é um comboio prestes a explodir” ou “a Europa económica é um absurdo que não funciona”.
Do mesmo lado da barricada – mas não lado a lado, como mostra uma recente troca de acusações – está Nigel Farage, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) que, tudo indica, poderá ter no dia 25 um resultado histórico. Uma sondagem do instituto ComRes para o jornal Independent on Sunday atribuiu ao partido antieuropeu 35% das intenções de voto nas europeias, com 11 pontos de vantagem face aos trabalhistas. Os conservadores do primeiro-ministro David Cameron somam 20% das intenções de voto, e os liberais-democratas, seus parceiros na coligação, são remetidos para o quinto lugar (6%), atrás dos Verdes.
Uma nova subida nas intenções de voto totalmente imune às últimas declarações de Farage que, numa entrevista de rádio, reafirmou que ficaria preocupado se uma família romena se mudasse para a casa ao lado da sua. Disse também que se sentia “desconfortável” com a quantidade de línguas estrangeiras que se ouvem nos transportes públicos britânicos e insistiu que muitos dos imigrantes que chegam ao país fogem “de uma vida de crime e miséria”. Os comentários foram repudiados por Cameron e pelo líder dos trabalhistas, Ed Miliband, mas tanto um como o outro recusaram-se a apelidar Farage de racista – uma denúncia que, sabem, poderá fazer ricochete.