Este país também não é para bebés
O que leva o geógrafo Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia da Universidade de Lisboa, a concluir que a troika deixou o país “pior em todos os sentidos” foi o ritmo a que tudo isto se deu. “Quando há capital de esperança, dinâmica económica e superavit migratório, como a seguir ao 25 de Abril e no período mais animado dos anos 90, a fecundidade e a natalidade têm saldos positivos”, começa por recordar. E o contrário também é verdade, ou seja, “nos contextos muito depressivos, na forma como se olha para o país e para o mundo, os valores caem abruptamente”.
Para o investigador Rui Pena Pires, o saldo natural vai continuar a diminuir. “A taxa de feminização da emigração actual é muito alta. Nalguns destinos, como o Reino Unido, as mulheres até estão em maioria”.
Quanto à comissão multidisciplinar que o líder do PSD incumbiu de, até Junho, apresentar propostas de incentivo à natalidade, Malheiros não se mostra optimista: “Parece-me uma comissão marcada por uma lógica de retoma da natalidade através de um pensamento conservador”, opina.