REN vai investir mais de 150 milhões na criação da terceira interligação entre Sines e Zamora

Rui Vilar, o novo presidente executivo da REN, afirma que no actual quadro de crise na Europa de Leste este é um investimento "que vai além do interesse regional".

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Rui Vilar é o actual presidente executivo da REN Rita Baleia

Os 35 anos de reatamento das relações diplomáticas entre Portugal e a China estão a ser assinalados com uma visita oficial do Presidente da República a Pequim, a Xangai e a Macau...
Para os chineses a transição de Macau decorreu de uma forma mais positiva do que a de Hong Kong, o que tem favorecido o relacionamento bilateral. A China atribuiu grande importância à correcção das autoridades portuguesas em comparação com a arrogância imperial britânica. O segundo ponto prende-se com a decisão estratégica da China de investir na língua portuguesa e de utilizar Macau como uma plataforma principal de investimento na sua promoção.

Em que é que se materializa a aposta da China na divulgação da língua portuguesa?
Para mim foi muito importante, em 2011, durante a minha última estadia em Macau, verificar que se fala hoje, no quadro da administração chinesa, mais português do que durante a nossa presença. No final, quanto a mim, até houve algum desinvestimento. A construção na China da nova universidade para Macau, mas ligada por um túnel ao território de Macau e construída de raiz para 10 mil alunos que queiram aprender português, é um sinal evidente de que Macau será uma plataforma de desenvolvimento da língua portuguesa. E é de Macau que querem não só partir para Portugal mas também para os países de língua oficial portuguesa.

Que importância atribui à visita de Cavaco Silva à China a convite do seu homólogo, o novo presidente Xi Jinping?
Quando há dezenas de países no mundo que manifestam desejo de vir a visitar oficialmente a China, o convite do presidente chinês ao Presidente da República, de uma visita longa com dois dias em Pequim, é um sinal da relevância que os chineses atribuem à relação com Portugal. O nosso desafio é encontrar os nichos e especializações que possam tornar Portugal relevante aos olhos da China. É evidente que não devemos investir na quantidade mas na qualidade, através de aportes tecnológicos de modo a que os chineses nos possam considerar parceiros diferentes. Quando vemos os gráficos económicos do FMI, vemos a China como um dos países com mais poupança interna, à frente dos países produtores de petróleo. E, portanto, num momento em que a procura de investimento é essencial para muitas economias com crescimentos fracos, como a portuguesa, é sempre importante ter relações próximas com países com altos níveis de poupança. Numa situação de crise, em que o investimento nacional e os bancos portugueses enfrentam grandes limitações, poder trazer investimento chinês para Portugal é muitíssimo importante.
 
É presidente de uma empresa que tem como maior accionista a State Grid, com 25%...
A State Grid é a maior empresa de transporte de electricidade do mundo e, embora nos EUA haja maiores consumos, não há empresa nacional, mas apenas de escala regional e isso conduz a muitas ineficiências que se traduzem, aliás, nos célebres apagões. Nos EUA não há sistemas de interligação que permitam passar a energia de umas áreas para as outras. Em termos globais a State Grid é a sétima empresa mundial.
 
Que benefícios, nomeadamente financeiros, trouxe à REN o investimento da State Grid?
Há três que decorrem no acordo estratégico de entrada no capital da REN: o apoio ao financiamento da REN. A REN já negociou com a banca chinesa linhas de cerca de 760 milhões de euros (China Development Bank, ICBC e Bank of China). E está, neste momento, a negociar uma linha adicional de mais de 600 milhões esta com o China Development bank que vai permitir dispor de uma situação de financiamento que garante uma enorme tranquilidade à empresa, pois baixa o custo do financiamento.
 
Os 600 milhões destinam-se a expandir a actividade?
Vão ser aplicados na construção de infra-estruturas e, sobretudo, a substituir financiamentos de custo mais elevado. Segundo aspecto muito importante da ligação da REN à State Grid (ST) prende-se com a celebração de um contrato de consultoria na China na área da integração das energias renováveis. Como o vento é uma energia muito inconstante (ao contrário de uma central que produz de forma continua) exige que se adopte uma tecnologia de gestão de rede sofisticada. A REN presta ainda consultoria ao grupo. Por outro lado, já foi criado em Portugal um centro de investigação e desenvolvimento detido em 50% pela REN e em 50% por uma subsidiária da SG, o NESTER, que foi reconhecido como um centro de investigação pelo Ministério da Educação e Ciência. Finalmente, o contrato de parceria estratégica existente é um instrumento dever ser um instrumento de internacionalização da REN, em especial nos países de língua oficial portuguesa. Por exemplo, em Moçambique, a REN deverá ser um parceiro preferencial no grande projecto que é a construção da infra-estrutura de transporte de energia Norte-Sul. E em que há forte possibilidade da REN e da SG serem parceiros principais.

Da visita oficial presidencial à China resultaram contactos com investidores com interesse na REN? De onde partiram?
Recebi várias perguntas sobre a última fase da privatização [venda de 11%] que é uma curiosidade sempre bem vinda. Já houve a primeira reunião com os analistas financeiros esta segunda-feira.

No seminário de quarta-feira, em Xangai, disse que a REN ia avançar com a terceira interligação. Pode dar detalhes?
No actual quadro de crise na Europa de Leste, altamente dependente do fornecimento de gaz natural da Rússia, a terceira interligação que ligará a Guarda a Zamora é um investimento que vai além do interesse regional, permitindo potenciar a capacidade do nosso terminal de Gás Natural Liquefeito em Sines, como um ponto de abastecimento para as redes europeias.

Qual é o valor do investimento?
Do lado português será entre 150 e 180 milhões de euros. Além disso, houve e haverá fundos comunitários, visto que a UE está a redesenhar de alto a baixo a sua politica energética.


O Governo anunciou que vai novamente, em 2015, aplicar uma contribuição extraordinária ao sector da energia, afectando empresas como a EDP, a Galp e a REN. Esperava esta medida? Esta semana o presidente da EDP disse que a aplicação da taxa já era esperada...
[Eu] Não esperava e os accionistas da empresa também não. E por várias razões: primeiro, porque tinha sido anunciada como extraordinária. Segundo, porque a base de incidência estava tecnicamente mal desenhada, não distinguindo uma empresa totalmente regulada, como a REN, de empresas que estão no mercado. O terceiro motivo prende-se com o facto de ter sido anunciado uma nova fiscalidade verde que seria um instrumento mais racional para substituir a contribuição extraordinária como receita orçamental.

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