Candidatos da Aliança Portugal recebidos com protestos pelos pescadores em Sesimbra
Nuno Melo desabafa: "Temos de estar preparados para isto". Paulo Rangel desvaloriza a dimensão do protesto: “Não vamos tomar a parte pelo todo”. No Montijo, a coligação PSD/CDS ouviu empresários queixarem-se de burocracia.
“Dê cá o subsídio de Inverno. A ministra [da Agricultura] veio cá prometeu e não nos deu nada”, gritou um pescador, dirigindo-se aos candidatos. De dedo em riste, exclamou: “Tenho quatro filhos e não tive comida para lhes dar. Mentirosos!”. “Andamos a descontar para vocês andarem aí”, prosseguiu, sendo acompanhado por outros colegas, embora em tom mais baixo.
O sol abrasa, o mar está calmo e os barcos já dão à costa com peixe. Mas os pescadores não esqueceram o rigoroso inverno e os meses que estiveram sem trabalhar. Os candidatos ainda ouviram algumas das queixas mas seguiram caminho. Nuno Melo desabafa: "Temos de estar preparados para isto". Paulo Rangel desvaloriza a dimensão do protesto. “Não vamos tomar a parte pelo todo”, justificou.
Mais à frente, junto às caixas do peixe que estava a chegar, Rangel foi desafiado a distinguir entre uma sardinha e um carapau. O cabeça de lista confessou não saber e foi o director da Docapesca, João Pólvora, que explicou a diferença.
No final da visita, Paulo Rangel e Nuno Melo sublinharam a importância da “economia azul”, a economia do mar. Que não valoriza só as pescas mas sim o turismo e a plataforma continental. “Portugal deve ser liderante na aposta da economia azul”, sustentou Paulo Rangel. Quanto à frota pesqueira, Nuno Melo sublinhou ter levado a Bruxelas representantes dos pescadores para reunir com técnicos e expor os problemas. Sobre as quotas pesqueiras, os candidatos sublinham que a questão está relacionada com a sustentabilidade dos recursos. E Rangel aproveitou logo para falar na reabilitação da cavala, em resultado da queda da pesca da sardinha, um trabalho de sensibilização que a administradora da Docapesca começou por explicar aos candidatos no início da visita ao porto.
Queixas de empresários no Montijo
Na passagem pelo Montijo, distrito de Setúbal, a campanha da Aliança Portugal parou numa empresa de raiz familiar, exportadora. Aparentemente, uma oportunidade para reflectir o discurso da maioria PSD/CDS em torno do elogio ao esforço dos empresários para sair da crise. Mas a realidade foi outra: há dificuldades no acesso a fundos comunitários para fazer investimentos e morosidade no licenciamento.
Numa sala de reuniões da empresa Raporal, produção pecuária e de rações, a administração foi clara: conseguiram libertar uma parte ínfima de apoios comunitários para um total de seis milhões de euros de investimento, mas não sabem se conseguem a restante verba de forma retroactiva. O cabeça de lista Paulo Rangel assumiu desconhecer as regras nestes casos, mas considerou que, pela lógica, a retroactividade deve ser possível.
Outro gestor da empresa, Pedro Lagoa, colocou mais uma queixa em cima da mesa: o licenciamento é demorado, chega a levar cinco anos e acaba por obrigar a reformular todo o projecto. O licenciamento de actividades empresariais tem sido um dos pontos em que o Governo reclama progressos e é até apontado como uma das reformas estruturais. No terreno, a reforma da lei parece não ter ainda chegado. “Só com mais celeridade é que Portugal se pode tornar auto-suficiente em produção [de carne de porco]”, referiu Pedro Lagoa, em resposta à pergunta de Rangel sobre a capacidade de produção no país.
Com cerca de 500 trabalhadores, a Raporal é fornecedora de carne preparada a uma grande superfície, mas também aí se queixa de ser “mal tratada” na grande distribuição: “Há um esmagamento de preços”.