A crise na construtora Sá Machado chegou como “uma trovoada”

Traballhadores da empresa temem pela falta de obras e não excluem possibilidade de emigrar.

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Trabalhadores da construtora Sá Machado não escondema apreensão quanto ao futuro. Fernando Veludo/NFactos

“Foi um período difícil, foi como uma trovoada”, confessa Feliciano de Sousa, de 60 anos, trabalhador da Sá Machado que o PÚBLICO encontrou numa obra da construtora, em Santo Tirso.

“Levantámos esta empresa e por isso custou ver o que aconteceu à empresa e ver muitos colegas a ir para o desemprego”, diz Feliciano, há 41 anos a trabalhar na construtora, que integrava o grupo das 100 maiores empresas do sector e chegou a ter obras em Angola e em Moçambique. Actualmente, a Sá Machado tem cerca de dois terços dos trabalhadores em Angola, em regime de prestação de serviços.

Feliciano diz que “a situação do despedimento colectivo doeu um bocado", mas que “a situação também não foi boa para eles [patrões]”. “Foi uma situação muito lixada. Eles [donos da empresa] também não recebiam pelas obras”, reforçou Feliciano, que se mostrou bem mais agastado com a troika , a quem acusa de lhe ter roubado “um ano no tempo para a reforma”.  

Como muitos outros trabalhadores, Feliciano tem dinheiro a receber da empresa, que começará a ser pago a partir do corrente ano, de acordo com o calendário definido no Plano Especial de Revitalização de Empresas (PER), aprovado pelos credores, os funcionários da empresa.

António Carvalho, outro trabalhador da Sá Machado, admitiu ter uma esperança moderada na melhoria económica do país e do sector. Com 47 anos, 33 dos quais a trabalhar na construtora bracarense, António diz que gosta muito de ouvir as notícias, mas quanto dizem que as coisas estão a melhorar ele contrapõe: “Quem lá está diz que sim, quem está cá fora diz que não”. E reforça que “não dá para confiar em todas as notícias que se ouve”.

Dos colegas que foram despedidos pouco sabe. Admite que a maioria continuará no desemprego, e apenas alguns terão arranjado emprego fora do país, designadamente em Espanha.

A emigração é uma possibilidade que António e Fernando, outro trabalhador da empresa, com 50 anos, não colocavam há alguns anos atrás, mas que dizem não excluir.  O cenário de eleições legislativas no próximo ano também é visto com cautela: "É importante que lancem obras, mas também é importante que as pagam", rematam.

Em 2012, ano em que foram despedidos 113.600 trabalhadores da construção e se assistiu ao encerramento de 13 mil empresas, o despedimento colectivo da Sá Machado chegou a ser notícia, pelo facto de alguns trabalhadores terem sido despedidos por telefone. Feliciano de Sousa diz que “não foi bem assim”, lembrando que houve um plenário, onde foi explicada a situação da empresa.

Esta versão foi confirmada por uma fonte exterior à empresa, mas que acompanhou o PER. Sob anonimato, garante que a empresa informou os trabalhadores do despedimento a realizar e apenas os trabalhadores que se encontravam longe, que não participaram no plenário, é que foram contactos por telefone, de forma a evitar que não fossem trabalhar, porque estavam abrangidos pelo despedimento. O PÚBLICO tentou, sem sucesso falar com ex-trabalhadores da construtura.

Quando se apresentou ao PER, a empresa tinha pagamentos de obras em atraso por parte de algumas autarquias e da Parque Escolar, situação que foi agravada com o corte repentino do crédito bancário, uma situação comum a muitas empresas e que foi ditada pela desalavancagem que o sector financeiro foi obrigado a fazer.

No âmbito do PER, foram reclamados 51,3 milhões de euros de créditos, um valor inflacionado em 16 milhões de euros relativos a garantias bancárias, que a construtora tinha contratado para evitar o depósito de cauções de garantia da construção das obras, uma obrigatoriedade legal das construtoras.

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