Empresas não vão mexer nos salários e mostram vontade de aumentar pessoal
Apenas 14% das organizações admitem dar aumentos este ano e 7% preparam-se para cortar nos ordenados. A grande maioria vai manter valores inalterados. Intenção de contratar cresce, especialmente na indústria.
Entre as que decidiram avançar para reduções de salários, a maioria (57%) prepara-se para tirar uma fatia de 6 a 10% do total da remuneração. Cerca de 43% pretende baixar menos de 5%. Quanto às que vão conseguir aumentar ordenados, em 79% dos casos a subida não irá além dos 5%, mas 21% das empresas vão conseguir oferecer aos seus funcionários um salário entre 6 a 10% superior face ao ano passado.
É no sector da logística e distribuição que há mais tendência para manter os valores inalterados (80%). No lado oposto, 10% dos inquiridos da área das tecnologias da informação e da indústria referem ter de reduzir salários. E é no grande consumo que haverá mais casos de aumentos de ordenado, revela o estudo.
Depois de anos com o corte de custos a encabeçar as prioridades das empresas, a grande maioria dos gestores (74%) diz que não vai recorrer a nenhuma estratégia ou plano específico para conseguir travar as despesas com o pessoal. Entre os 26% que, pelo contrário, referem ter de avançar com formas de cortar nos gastos com recursos humanos, 7% dizem que o farão através de reduções de ordenado com o acordo dos seus trabalhadores e 17% poderão mesmo recorrer a despedimentos amigáveis “e posterior contratação de pessoas por um menor valor salarial”, avança o estudo.
Ana Teixeira, responsável em Portugal pela MRINetwork/CIGA, acredita que, apesar da crise, a maioria das empresas “aposta na estabilidade do emprego”. “Para 70% a massa salarial vai manter-se. Isso não quer dizer que não possa haver alguns aumentos ou reduções, em casos pontuais, mas sem alterar a massa salarial global. Talvez aumentar salários, no contexto económico actual, não seja uma solução possível para a maioria das empresas, mas já não haver diminuição para a maioria é, no nosso entender, uma boa notícia”, defende.
Mais trabalhadores em 24% das empresas
A consultora de recursos humanos, que recruta executivos de topo, elabora todos os anos este inquérito a gestores e, em 2014, há alguns sinais de optimismo quanto às intenções de contratação. Cerca de 63% dos inquiridos planeiam manter o número de trabalhadores (60% em 2012) e 24% admitem mesmo poder vir a aumentar. Comparando com 2012, há um crescimento de 14 pontos percentuais, resultado “muito interessante” para Ana Teixeira que, no seu dia-a-dia, também está a observar “mais dinamismo no mercado de trabalho, com maior número de ofertas de emprego”. Ao mesmo tempo, cerca 13% dos 115 gestores pretendem diminuir o quadro de pessoal, uma percentagem inferior a 2012, quando 30% dos inquiridos admitiam ter planos para despedir.
Entre o universo de empresas que querem reforçar o número de funcionários, 53% procuram quadros técnicos especializados e 11% recém-licenciados. E é nos departamentos técnico e comercial que maior oferta de emprego há (36% e 26%, respectivamente).
As empresas de média dimensão (entre 21 a 250 trabalhadores) são as que mais planeiam aumentar ou manter os seus profissionais. No lado oposto, estão as organizações com menos de 20 trabalhadores: 43% admitem ter de despedir ainda este ano. Por sectores de actividade, a indústria lidera na intenção de contratação (31%), seguida do grande consumo (27%). É na área das tecnologias da informação que há mais intenção de dispensar trabalhadores, com 19% dos gestores deste sector a manifestarem esta decisão. Seguem-se os serviços, com 17%.
Questionados sobre o tipo de contratos laborais, 93% dos inquiridos da área da logística pretendem ter uma equipa maioritariamente de efectivos, tendência que é seguida pela maior parte das empresas incluídas neste estudo. É nas tecnologias de informação que a tendência para ter trabalhadores com contratos a termo certo é mais frequente, tal como a contratação de colaboradores em regime de outsourcing.
Ana Teixeira sublinha que outro sinal de um “aumento de dinamismo do mercado de trabalho tem a ver com o facto de aumentar de 22% em 2012 para 40% em 2014 o número de empresas que antecipa vir a ter alguma ou grande dificuldade em encontrar trabalhadores com o perfil de competências adequadas”.