Pensar a natalidade é pensar na Família

Há décadas que se adensam no horizonte as nuvens negras da ameaça do inverno demográfico na Europa. Os sociólogos apresentam os quadros relativos ao decréscimo assustador do número dos nados-vivos em Portugal.

É mais arrepiante tomar conhecimento de que os primeiros resultados de um recente inquérito à fecundidade realizado pelo INE em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos indicam que os portugueses desejariam ter mais filhos do que os que têm ou pensam poder vir a ter. As decisões relativas ao número de filhos são, em primeira linha, decisões de amor tomadas a dois, mas a obsessão igualitária não deve esconder que é sobre as mulheres que pesa mais a carga das responsabilidades da vida em comum e do cuidado dos filhos. Também neste aspeto se reflete a normatividade da natureza humana e não há lei que possa alterar o facto de que são as mulheres que suportam os incomoda da gravidez e da “maternidade-para-sempre”, base e condição de sobrevivência de toda a comunidade humana.

É de abandonar ao passado a ideia de que as mulheres têm direito a não ter filhos, ou que quando as mulheres escolhem ter filhos, escolheram mal, foram enganadas ou não foram livres. Hoje, o grande desafio político é o de ajudar as mulheres a terem os filhos que ambos desejem ter, favorecendo o particular ambiente humano necessário à geração e educação dos filhos, que é a Família.

A crise e a preocupação com o défice demográfico estão a tornar evidente que as políticas sociais não substituem a Família. A falência do Estado Social trouxe à luz as fragilidades de uma ideologia individualista que postula um Estado omnipresente e protetor. Não é o Estado quem tem os filhos e nenhum Estado, por mais rico e bem organizado que seja, chegará a cumprir as múltiplas funções que a Família realiza.

Por isso, não acredito em políticas que se limitem a apoiar a natalidade com subvenções, deduções e benefícios fiscais. É verdade que compete ao Estado criar condições e eliminar constrangimentos ao direito de os cidadãos constituírem família, bem como suprimir injustiças e promover a verdadeira igualdade fiscal. Em Portugal, o Estado não só tem omitido estes deveres exigidos pelo bem comum, como se tem entretido a promover o individualismo, fomentando e patrocinando uniões afetivas instáveis e infecundas.

Os resultados recolhidos nalguns países do norte da Europa, que começam a recuperar os índices de fecundidade, apontam para o sucesso de atuações que proporcionem serviços e ajudas técnicas centradas na conciliação da vida profissional com a vida familiar. Nunca é de mais sublinhar que as mulheres portuguesas são as que mais trabalham, dentro e fora de casa, no conjunto dos países da União Europeia. A loucura corajosa das que são mães nestas condições tem de ser apoiada pela promoção de uma cultura de trabalho a tempo parcial (ou de trabalho parcialmente a partir de casa) e de consideração pelos horários e calendários escolares; e pelo abandono das práticas de acumulação de tarefas ao fim da tarde e de pressão dos timings da progressão na carreira sem a ponderação de cada filho como uma entrada curricular de particular valor para a sociedade.

Do que se trata principalmente é de considerar a Família como eixo central da Política da Família. A sociedade é plural e complexa, mas é possível unirmo-nos numa perspetiva comum de valorização da Família como o ambiente humano onde se geram, cuidam, educam e acompanham os filhos.

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