Mal começaram, as conversações entre Maduro e a oposição venezuelana entraram num impasse
Presidente recusou conceder uma amnistia aos detidos desde o início da contestação ao seu Governo. "Para já, é tempo de justiça", disse.
O Presidente recusou de imediato os primeiros pedidos da oposição — a amnistia imediata para os manifestantes detidos desde que a violência começou, a 4 de Fevereiro, e o desarmamento dos grupos de civis armados apoiantes do Governo. “Há um tempo para a justiça e um momento para o perdão. Para já, é tempo para a justiça “, disse Maduro sobre o pedido de amnistia.
Depois de ter recusado as exigências da oposição, o Presidente avançou com uma proposta, a realização de mais fóruns de discussão, e convocou uma nova reunião para terça-feira da próxima semana.
O encontro, que começou às nove da noite (hora local) de quinta-feira, decorreu no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas e foi transmitido em directo em todas as estações de rádio e televisão do país. Os venezuelanos puderam ver Nicolás Maduro, acompanhado de um guarda-costas, a receber os dez líderes da oposição que compareceram e que se juntaram aos nove elementos do Governo na reunião.
O encontro — mediado pela União de Nações Sul-Americanas, representada pelo Brasil, Colômbia e Equador —
arrancou com o núncio apostólico de Caracas, Aldo Giordano, a ler uma carta do Papa Francisco. A carta apelava ao “respeito e heroísmo do perdão” e à necessidade de “encontrar espaços de colaboração através do reconhecimento das suas diferenças”. Apesar do esforço do Papa, o apelo não surtiu qualquer efeito. E prevê-se que o impasse se mantenha.
Uma das intervenções mas esperadas era a de Henrique Capriles, o governador do estado de Miranda e ex-candidato da oposição à presidência. Capriles advertiu Maduro de que ou cede ou a Venezuela “reinventa-se”. Depois acusou Maduro de só estar na presidência porque controla as instituições.
O partido Vontade Popular, que já se tinha recusado a participar nesta ou em futuras conversações com o Governo enquanto o seu dirigente, Leopoldo López, estiver detido, fez saber mais uma vez, em comunicado, que não aceita o diálogo: “Não acreditamos num ‘diálogo’ que o regime quer transformar num show político”. “A nossa organização não endossará qualquer diálogo enquanto a repressão, as prisões e a perseguição ao nosso povo continuarem”.
Neste cenário, alguns analistas questionavam se haverá uma segunda ronda de conversas. O Presidente Maduro “passa, estrategicamente, a ideia de querer dialogar para aumentar a esperança [da população]”, quando na verdade não quer o diálogo, disse o analista político Luis Vicente Leon, da empresa Datanalisis, à agência AFP.
Entretanto, as manifestações continuam em várias cidades venezuelanas. “Agora mais do que nunca, as manifestações pacíficas e constitucionais são necessários para pressionar uma mudança radical e democrática”, reiterou o deputado da oposição Julio Borges.