Ruanda, 1994: “Devíamos ter feito muito mais”, assume Ban Ki-moon

Secretário-geral da ONU assumiu “vergonha” por não ter sido impedido o massacre de cerca de 800 mil pessoas, numa das "páginas mais sombrias da história da humanidade”.

Fotogaleria
Choro na cerimónia desta segunda-feira, 20 anos depois SIMON MAINA/AFP
Fotogaleria
Paul Kagame e Ban Ki-moon, em Kigali Noor Khamis/Reuters
Fotogaleria
Noor Khamis/Reuters
Fotogaleria
SIMON MAINA/AFP
Fotogaleria
SIMON MAINA/AFP

A “vergonha” de não ter impedido o massacre de cerca de 800 mil pessoas, em 1994, foi assumida no arranque das cerimónias evocativas do genocídio, em Kigali. “O genocídio dos tutsis no Ruanda foi uma das páginas mais sombrias da história da humanidade” e “as lágrimas ainda correm” – acrescentou, citado pela AFP.

Entre Abril e Julho de 1994, os tutsis foram sistematicamente perseguidos e mortos por militares e milícias hutus, com catanas e cacetes, nas suas casas, em barreiras erguidas nas estradas e em igrejas onde procuravam refúgio. Os hutus opositores do regime e os que se recusavam a participar nos massacres eram também mortos.

Assumindo a impotência para travar as matanças iniciadas a 7 de Abril, um dia depois do abate do avião do Presidente hutu, Juvenal Habyarimana, as Nações Unidas retiraram em meados daquele mês, por decisão do Conselho de Segurança, a maior parte dos cerca de 2500 soldados que tinham no país.        

Na intervenção que fez em Kigalim Ban recordou também o abandono à sua sorte, um ano após o genocídio do Ruanda, dos muçulmanos bósnios do enclave de Srebrenica, que deviam ter sido protegidos pelas Nações Unidas.

O arranque das cerimónias foi marcado por acusações do Ruanda à França sobre o papel das autoridades de Paris no genocídio. O Presidente Paul Kagame acusou a França – aliada do governo ruandês da altura – e a Bélgica – antiga potência colonial –  de envolvimento na “preparação política do genocídio”. No caso da França denunciou também o alegado envolvimento na “execução” do genocídio.  

A França anulou a prevista deslocação da sua ministra da Justiça, Christiane Taubira, e anunciou que se faria representar pelo seu embaixador em Kigali, Michel Flesch. Mas o executivo ruandês declarou-o persona non grata nas cerimónias.  

Na cerimónia desta segunda-feira, no estádio Amahoro, Kagame, então líder dos rebeldes que combatiam o governo, voltou a aludir, de modo velado, ao envolvimento “directo” de que acusa a França. “Nenhum país é suficientemente poderoso – mesmo se pensa que é – para mudar os factos”, disse na sua intervenção em inglês na qual, a dado passo, afirmou em francês, “os factos são os factos”.
 

  

Sugerir correcção
Comentar