Morreu Manuel Forjaz, o homem que não teve medo de dizer a palavra cancro
“Posso morrer de cancro, mas o cancro nunca me matará", declarou recentemente numa entrevista o professor e empresário
Na sua página no Facebook , os dois filhos revelaram as instruções que deixou para o funeral: “Não quero que chorem. Não quero ninguém vestido de preto. Não quero caixão aberto e quero uma cerimónia simples e alegre”. Para a despedida escolheu a música Don’t Stop Believing, dos Journey, e o padre João Seabra. O corpo está, neste domingo, a partir das 18h, na capela da Igreja da Encarnação, ao Chiado. É aqui que amanhã se realiza uma missa, pelas 13h30, após a qual o corpo segue para o cemitério do Alto de São João.
Manuel Forjaz tinha um programa semanal na TVI24 conduzido por José Alberto de Carvalho. Intitulado "28 Minutos e Sete Segundos de Vida", analisava o país, os portugueses e a sua própria vida. A última emissão foi transmitida quarta-feira à noite. A sua página no Facebook conta com 76 mil seguidores.
Fazia palestras onde partilhava a sua luta. Recusou sempre baixar os braços e lançou um livro, Nunca Te Distraias da Vida, em que falava da sua experiência pessoal na luta contra o cancro. Numa entrevista dada no mês passado à Notícias Magazine, declarou: “Posso morrer de cancro, mas o cancro nunca me matará. Se tenho dores, tomo compridos. Continuo a trabalhar, a dar aulas, a viajar, com vida social. Há dias difíceis, pós-químio, em que não consigo levantar-me. A maior parte das pessoas não sabe que estou doente”.
Ontem, num dos seus últimos posts no Facebook, comentava com acutilância a polémica em torno do papel desempenhado por Vítor Constâncio quando era governador do Banco de Portugal e não detectou o que se passava no BPN: "São bastante evidentes as semelhanças entre Vítor Constâncio e uma ostra, sendo a mais importante o facto de serem os dois acéfalos".
Antigo dirigente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), Manuel Forjaz desempenhou ainda funções de administrador do extinto jornal A Capital, fundou a consultora Ideiateca, criou a TEDxOPorto. Terá sido um dos primeiros oradores a colocar na agenda a palavra “empreendedorismo”.
Foi um dos fundadores do Instituto de Empreendedorismo Social e padrinho do projecto Lig@-te, uma parceria entre a ANJE e uma extensa lista de entidades. Neste contexto, desempenhou o papel de mentor de empreendedores em situação de desemprego ou dificuldades sociais, que fizeram formação para criarem o seu próprio negócio no Centro de Desenvolvimento Comunitário da Ameixoeira. Foi aqui que, em 2009, conheceu Vera Lúcia, com 27 anos e a dar os primeiros passos para fundar o E-Beleza, um serviço de cabeleireiro, manicure e estética a idosos. Na altura, ao PÚBLICO, Manuel Forjaz dizia que a Vera não era “o empreendedor típico que aparece nos jornais, académico”. “Mas devia ser. É o futuro do empreendedorismo”, defendeu, acrescentando que o importante é passar a mensagem de que, com vontade e determinação, a criação de um negócio pode estar ao alcance de qualquer um, independentemente da condição social.
Hoje, Vera Lúcia diz que Manuel Forjaz foi determinante para a sua vida. “Ouvi-lo falar deu-me confiança em mim mesma. O E-Beleza existe há já cinco anos graças a ele. O projecto dos idosos foi ele que o impulsionou. Só me disse que não precisava de um canudo para ser empreendedora. Disse-me que eu já era empreendedora e só precisava de um abanão”, recorda.
Notícia actualizada às 16h50, com novo título e mais informações