Moradores protestam no domingo contra mega-urbanização em Carcavelos

Plano de pormenor para aquela zona vai ser votado pela Câmara de Cascais na segunda-feira.

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Iniciativa está marcada para a marginal de Cascais Rui Gaudêncio/Arquivo

A iniciativa, marcada através do Facebook, acontece às 10h no dia em que a marginal de Cascais vai estar encerrada ao trânsito automóvel e reservada à prática de actividade física. Os participantes são convidados a vestir uma t-shirt preta e a levar uma garrafa de água cheia de areia, para uma "acção de luto" cujo objectivo é "desandar com a urbanização" prevista no plano.

"Não concordamos com uma urbanização que vai afectar gravemente a qualidade de vida das pessoas e vai acabar com o último espaço verde na orla costeira entre Cascais e Lisboa. O nosso objectivo é apelar à Câmara de Cascais para acabar com o plano e para que haja estudos sérios para fazer outro aproveitamento daquela zona", defendeu Ana Maria Azevedo, porta-voz do Fórum de Carcavelos.

Esta semana foram conhecidos dois estudos encomendados pela Câmara de Cascais a Ramiro Neves, investigador do Instituto Superior Técnico, sobre os impactos das construções previstas no Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul (PPERUCS) no regime de ventos e na erosão da praia.

Através de simulações feitas com base em modelos matemáticos, o especialista concluiu que “o sentido do vento não se altera” devido à construção e que nos 20 metros acima do nível do mar - ou seja, na zona utilizada para o surf - “não há alteração da intensidade” do vento. Apurou também que, devido à hidrodinâmica e à geologia da região, o projecto não interfere nos sedimentos “nem condicionará a adaptação da praia num cenário de alterações climáticas”.

Porém, os moradores não estão convencidos. "Não estamos nada convencidos com esse estudo, até porque no final o investigador admite que, daqui a uns anos, a Praia de Carcavelos pode desaparecer devido às alterações climáticas, por isso, ou se gastam milhões para repor areia na praia ou se faz o recuo da marginal, o que é incompatível com este plano", defende Ana Maria.

A representante do grupo Forum de Carcavelos, que junta mais de 3000 pessoas, considera que os blocos de betão previstos - dois edifícios de seis pisos e outro de quatro pisos, um hotel de cinco pisos, um condomínio privado e espaços residenciais e comerciais - são "inadmissíveis".

"Isto foi tudo muito precipitado e acelerado propositadamente pela câmara. Houve muito pouco tempo para analisar o relatório de ponderação, mas por aquilo que já vimos no relatório, há uma manipulação nítida dos números", acusou Ana Maria Azevedo.

O relatório do PPERUCS, resultante da participação da população no período de discussão pública, vai ser votado na próxima segunda-feira em reunião de câmara. A autarquia recebeu 91 contributos durante a discussão pública e aceitou fazer duas alterações no plano: a urbanização não pode incluir condomínios fechados e três dos prédios mais próximos da Avenida Marginal terão seis e não sete pisos, retirando cerca de 30 fogos aos 939 previstos.

Mesmo que seja aprovado pelo executivo municipal, o plano terá ainda que ser discutido e votado na Assembleia Municipal, que já chumbou o projecto em 2001.