Relatório do Senado aponta mentiras da CIA para justificar polémico programa de interrogatório
Investigação do Comité de Serviços Secretos conclui que a agência norte-americana ora ocultou, ora exagerou informação relativa às sessões de interrogatório com suspeitos de terrorismo.
De acordo com o diário da capital, o relatório “documenta um prolongado padrão de alegações infundadas por parte dos dirigentes da CIA quando tentavam obter permissão — e mais tarde justificar — o recurso a métodos de interrogatório excruciantes que renderam pouca ou mesmo nenhuma informação relevante”.
Segundo uma das fontes citadas pelo Post, nos seus contactos com o Departamento de Justiça ou o Congresso a CIA reiteradamente creditava os seus “métodos agressivos” de interrogatório pela obtenção de informação crucial, que permitiu travar a realização de novos ataques terroristas nos Estados Unidos. O que o Senado concluiu depois de investigar o assunto foi que essas explicações não correspondiam à verdade, e que a CIA não só escondeu detalhes sobre os métodos utilizados, como exagerou a importância da informação recolhida nos interrogatórios — chegando mesmo a enganar os seus interlocutores ao dizer que informações vitais só tinham sido obtidas por meio de técnicas agressivas, quando esse não era o caso.
A investigação do Senado segue-se a uma outra avaliação levada a cabo pelo Departamento de Justiça sobre o controverso programa secreto de interrogatórios, estabelecido pela CIA pouco depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos. O recurso a técnicas agressivas, como por exemplo a simulação de afogamento (waterboarding), e a manutenção de uma rede de prisões secretas pela CIA geraram intenso debate e repúdio por parte da opinião pública americana, mas foram sempre defendidos pela Administração do Presidente George W. Bush.
O Washington Post assinala que as revelações mais significativas do relatório do Senado dizem respeito não às práticas agressivas da CIA, mas sobretudo às “discrepâncias” entre as declarações dos seus dirigentes de topo perante as instituições de Washington e o conteúdo da informação interna da agência, contida nos relatórios dos agentes envolvidos nos interrogatórios.
Entre vários casos, destaca-se o do operacional da Al-Qaeda conhecido pelo nome de Abu Zubaida, que foi detido no Paquistão em 2002 e mais tarde sujeito a 83 sessões de waterboarding. Apesar da “informação sensível” dispensada por Zubaida ter sido obtida por um agente do FBI que foi o primeiro a interrogá-lo ainda num hospital paquistanês, a hierarquia da CIA comunicou esses dados como tendo sido resultado da aplicação dos métodos agressivos de interrogatório.
O Comité de Serviços Secretos do Senado vai decidir, esta quinta-feira, se pede ou não que o Presidente Barack Obama assine a “desclassificação” de um sumário executivo de cerca de 400 páginas, com as conclusões do relatório, para conhecimento do público.
A CIA não comentou oficialmente as informações divulgadas pelo Washington Post, alegando não ter ainda recebido a versão definitiva do relatório. Mas entre as fontes do jornal surgiam oficiais ligados à agência que mencionavam “erros factuais” no documento e contestavam a “orientação” das conclusões.
As prisões secretas da CIA foram encerradas pelo Presidente Barack Obama logo que chegou à Casa Branca. No seu primeiro dia de trabalho, em 2009, Obama também assinou uma ordem executiva para imediatamente pôr fim à prática de tortura pelas forças norte-americanas.