Em Marselha, a Frente Nacional teve uma vitória grande em simbolismo e reduzida em poder
Stéphane Ravier vai gerir o 7.º Sector de segunda maior cidade francesa, mas terá poucas competências.
Stéphane Ravier, um “quarentão afável e simpático”, como o descrevia o Le Monde, nasceu em Marselha e sempre viveu ali. O seu avô era “vagamente comunista”, os pais votaram em François Mitterrand em 1982, mas ele tem cartão de militante na Frente Nacional desde os 22 anos e tem como ídolo Jean-Marie Le Pen, o pai da actual líder do partido, Marine Le Pen.
Para a vitória de Ravier em Marselha terá contribuído a forte descredibilização do Partido Socialista naquela cidade. O dirigente da federação regional do partido, Jean-Noël Guérini, está a ser investigado pela justiça por “conflito de interesses”, “tráfico de influência” e “associação de malfeitores” e foi-lhe levantada a imunidade parlamentar (era senador). Mas mesmo assim não se demitiu, nem a direcção nacional do PS lhe exigiu que se demitisse – só se chegasse mesmo a ser acusado.
Curiosamente, o candidato da Frente Nacional – um partido de extrema-direita, xenófobo, conta a imigração e anti-islão – foi eleito pelos habitantes dos 10.º, 13.º e 14.º arrondissements de Marselha, no Norte da cidade, onde existem os prédios de habitação social construídos na década de 1960 em que vivem muitos magrebinos – e para onde posteriormente foram viver imigrantes das Comores, nota o jornal local La Provence. Esta população, que, pela lógica, não deveria votar na FN, ofereceu o seu voto ao partido anti-imigração de Marine Le Pen. Na verdade, ofereceu-lhe uma das vitórias de maior valor simbólico da sua história.
O simbolismo será maior do que o poder real que Stéphane Ravier vai ter, explica o La Provence. Enquanto presidente de sector em Marselha, terá competências bastante reduzidas e um orçamento igualmente limitado – de dois euros por habitante.
Em Paris, os presidentes dos arrondissements têm competências como a gestão dos lugares nas jardins-de-infância, as matrículas escolares ou as pequenas obras na via pública. Mas não em Marselha. Nesta cidade, só podem gerir os centros culturais de bairro, os espaços verdes com menos de um hectare e alguns campos de jogos. Têm uma participação mínima na atribuição de habitações sociais e só podem opinar sobre as licenças de construção emitidas pelo município para o território sob sua administração.
Mas mesmo o efeito psicológico de um município que passa a ter um autarca da Frente Nacional pode ser importante. Duas câmaras belgas anunciaram ontem que suspendiam a sua geminação com cidades francesas que elegeram presidentes da FN, Hayange e Beaucaire.
“Não partilhamos os mesmos valores”, explicou o burgomestre de Arlon, Vincent Magnus, no Sudeste da Bélgica. Vai propor à sua câmara que suspenda as relações oficiais com o autarca de Hayange, o ex-sindicalista Fabien Engelmann, que se passou para a FN. “Se um eleito da FN quiser vir a Arlon, não será bem-vindo.” A comuna de Charleroi, no Sul da Bélgica, pretende também congelar as suas relações com Beaucaire, que elegeu o jovem quadro da FN, Julien Sanchez, para a dirigir. “Politicamente, não podemos continuar a trabalhar com pessoas que desenvolvem tais teses, tais idelogias”, disse à Rádio Pública belga o burgomestre de Farciennes, o socialista Hugues Bayet.