Uma fotografia e uma ‘divergência insanável’
Encontro entre Passos e Seguro termina sem consensos. Passos chega à Alemanha de malas vazias.
Foi há dez meses, durante a sétima avaliação da troika, que Pedro Passos Coelho e António José Seguro se sentaram pela última vez num frente-a-frente. Nem durante a grave crise política do Verão do ano passado o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição se sentaram à mesma mesa. É elucidativo do distanciamento, do clima de crispação e da incapacidade de diálogo entre ambos. E quanto mais se aproxima a data para as eleições europeias e o relógio para as legislativas começa a contar, mais difícil será os dois partidos chegarem a algum tipo de entendimento para o período pós-troika, tal como sugeria Passos Coelho na carta que enviou na sexta-feira a António José Seguro.
Em termos políticos, a questão essencial do encontro que ontem se realizou era saber o que tinha Passos para oferecer ao líder dos socialistas. Pouco ou nada. Mesmo quando Cavaco Silva sugeriu um governo de salvação nacional, ofereceu a António José Seguro a possibilidade de antecipar em um ano o calendário eleitoral em troca de um entendimento entre PS e PSD. Mesmo assim, o líder do PS declinou o convite.
Ao dizer, de antemão, que aceitou participar no encontro de ontem com o intuito de “cumprir o seu dever institucional”, António José Seguro já tinha deixado claro ao que vinha (e ao que não vinha). E no final do encontro, ao falar em “divergência insanável” entre o PS e o Governo para a estratégia de consolidação orçamental, o líder do PS resumiu tudo.
E hoje Passos Coelho parte para a Alemanha para o tal encontro com Angela Merkel para discutir a estratégia de saída de Portugal do programa de resgate. Na mala leva uma fotografia tirada ontem com o líder do PS e uma “divergência insanável”. É muito pouco, ou mesmo nada, para um primeiro-ministro que ainda ambiciona sair do programa de resgate com uma saída à irlandesa.