Nunca se chegou tão longe no passado cósmico
As observações desta radiação têm revelado eventos importantes da história cósmica, permitindo desvendar eventos do passado cósmico que nenhuma outra observação astrofísica pode alcançar. E agora, após tanto esforço, em radioastronomia, o de maior sucesso nos últimos 30 anos (quatro prémios Nobel e com esta descoberta, a caminho seguramente do quinto) consegue-se detectar o sinal de um evento cósmico quando o Universo tinha entre 10^-32 a 10^-35 segundos e o seu diâmetro aumentou violenta e exponencialmente cerca de 10^26 vezes pelo menos neste ínfimo espaço de tempo.
Não deixa de ser fantástico como uma experiência dedicada à detecção de polarização por ondas gravitacionais, rastreando cerca de 10% do céu no Hemisfério Sul tenha chegado tão longe no passado. Agora, falta-nos desvendar a própria origem da radiação e iluminar a escuridão do conteúdo em energia e matéria cósmicas.
Confirma-se também que os programas de investigação em radioastronomia são apostas seguras, de impactos científicos e tecnológicos únicos. De facto, várias experiências têm sido propostas com radiotelescópios, alguns em locais inóspitos como a Antárctica, incluindo a bordo de balões estratosféricos, ou em satélites espaciais como o WMAP da NASA (lançado em 2001) e o Planck Surveyor da Agência Espacial Europeia (lançado em 2009). Esta corrida pela história cósmica terá as cenas dos próximos capítulos com a publicação ansiosamente esperada dos dados do Planck, cobrindo todo o céu, e em que participam colegas como Luís Mendes da ESA e Graça Rocha, do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA. O Planck ajudará seguramente a confirmar (ou não) este entreabrir do véu cósmico em microondas, enriquecendo o conhecimento sobre as nossas origens.
Astrofísico que trabalhou com radiação cósmica de fundo, os ecos do Big Bang, e pertence agora ao Grupo de Radioastronomia do Instituto de Telecomunicações, Universidade de Aveiro