Passos Coelho acusa notáveis de "irrealismo" e de porem em causa financiamento do país
Primeiro-ministro reage duramente ao manifesto que pede a reestruturação da dívida, acusando-o de enviar "a mensagem errada aos que confiam no país".
No discurso com que inaugurou a nova sede da Polícia Judiciária, o primeiro-ministro acusou os notáveis subscritores do documento, alguns do PSD, de "irrealismo" e de porem em causa financiamento do país e também o Estado social.
O manifesto, divulgado esta terça-feira pelo PÚBLICO, é subscrito por cerca de 70 personalidades de todos os quadrantes políticos, como Manuela Ferreira Leite e António Capucho, Adriano Moreira, Freitas do Amaral, Bagão Félix, Ferro Rodrigues, Manuela Arcanjo e João Cravinho, mas também Carvalho da Silva e Francisco Louçã. Mas também há empresários, patrões, sindicalistas, académicos e constitucionalistas que defendem a chamada “reestruturação responsável da dívida”, condição sem a qual, dizem, continuará a imperar a política da austeridade pela austeridade e, sem a qual não será possível o crescimento e o emprego.
"Aqueles que querem realizar o irrealizável acabam por não ser justos nem oferecer segurança aos cidadãos, acabando por pôr em causa o Estado social", atirou Passos Coelho, para quem os subscritores do documento mais não querem do que "negar a realidade".
O primeiro-ministro concretizou depois a ideia do irrealismo. "Nem sempre aquilo que consideramos ideal se pode concretizar da forma que achamos mais fácil ou mais óbvia", avisou.
Para o chefe do executivo, o manifesto mais não faz do que "passar uma mensagem errada para os credores". "A primeira coisa que se deve fazer para preservar políticas públicas é garantir condições de financiamento dessas políticas", defendeu.<_o3a_p>
Para Balsemão, reestruturação pode ser um "acto de boa gestão"
Francisco Pinto Balsemão, militante número um do PSD, não assinou o documento, mas sustenta que "reestruturar a dívida é, muitas vezes, um acto de boa gestão das empresas". "Se os bancos estiverem de acordo, se puder pagar mais devagar, se puder pagar com menos juros..."
"Pagar menos juros aos bancos eu tento sempre", disse o fundador do PSD e empresário, aos jornalistas, no final da apresentação das comemorações dos 40 anos do partido e da democracia. "Tenho alguma curiosidade e interesse em ler o documento", acrescentou, quando respondia à questão de se lhe oferece confiança a assinatura de figuras como Manuela Ferreira Leite e Adriano Moreira.
No manifesto, um grupo de personalidades (em que se inclui também o antigo líder do BE Francisco Louçã) faz um apelo comum para que Portugal encete esforços junto dos seus parceiros europeus para preparar uma reestruturação da dívida pública que, com os valores actuais, dizem ser “insustentável”.
"Extremamente prejudicial", diz Maduro
Já o ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional considerou que "qualquer opção de reestruturação da dívida seria extremamente prejudicial para o país", considerando que aumentaria os custos de financiamento do Estado no regresso aos mercados.
Numa audição parlamentar, Poiares Maduro criticou a deputada do PCP Paula Marques pela "incapacidade de reagir a boas notícias", referindo-se à confirmação, pelo Instituto Nacional de Estatística, de que a recessão em 2013 ficou nos 1,4% do produto interno bruto (PIB). Mas logo Luís Fazenda (BE) considerou que "a notícia do dia" era a defesa, por "ex-ministros da direita", da reestruturação da dívida portuguesa.
Em resposta ao deputado bloquista, o ministro adjunto disse que "qualquer opção de reestruturação da dívida seria extremamente prejudicial para o país, porque qualquer indicação nesse sentido poderá imediatamente aumentar os custos de financiamento do Estado português no seu regresso pleno aos mercados".
Por outro lado, Poiares Maduro considerou que "a defesa da reestruturação da dívida pelo BE é paradoxal", porque ela seria "regressiva do ponto de vista social" e implicaria, como aconteceu na Grécia, "medidas ainda mais penosas ou a saída do euro", o que beneficiaria "os mais ricos, porque conseguem colocar o seu dinheiro fora do país, e prejudicariam quem tem menos meios".
Para o ministro, "o melhor para o país é fazer o que este Governo tem feito", como a "negociação das extensões da maturidade da dívida".
"É dessa forma que temos vindo a reduzir, de forma sustentada, o peso da nossa dívida pública", considerou, acrescentando que discussões como a da reestruturação da dívida "são penalizadoras para o país neste momento".