Carlos Tavares: "O foco nos próximos dois anos é fazer a empresa dar a volta"

Gestor português está prestes a assumir o cargo de topo da Peugeot Citroën, o grupo francês, que se afundou com a crise na Europa.

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Carlos Tavares afirma que se nota uma recuperação do mercado no Sul da Europa Christian Hartmann/Reuters

No entanto, por ora, tem uma meta de curto prazo. “O principal objectivo é ter fluxo de caixa positivo em 2016 e abater dívida. O foco nos próximos dois anos é fazer a empresa dar a volta. E, se possível, fazer algum lucro”, afirmou, num dos encontros com jornalistas que teve esta semana, no salão internacional de automóveis de Genebra.

A PSA, que tem na Europa o principal mercado, ressentiu-se com a forte contracção do consumo europeu nos últimos anos, que atirou as vendas de automóveis para valores mínimos das últimas duas décadas. Os últimos meses, porém, têm sido de alguma recuperação no sector. Em 2013, foram vendidos cerca de 12,3 milhões de unidades e a Associação Europeia de Fabricantes Automóveis prevê um crescimento modesto de 2% ao longo deste ano (a tendência também se regista em Portugal, onde o ano passado já foi de crescimento).

A indústria, porém, está cautelosa quando à recuperação na Europa. “Estamos melhor, mas a realidade é que ainda estamos longe do pico”, afirmou em Genebra, citado pela agência Bloomberg, o responsável máximo de vendas do grupo Volkswagen, Christian Klingler. “Estamos num caminho razoável para uma recuperação modesta”, disse por seu lado o presidente executivo da Ford europeia, Stephen Odell.

Já Carlos Tavares notou a existência de uma recuperação no Sul da Europa e não duvida de que “as pessoas continuarão a comprar carros na Europa”. Mas explicou que não quer correr o risco de ancorar o negócio num número reduzido de regiões. “Creio que o futuro desta empresa é ser global. Precisamos de vendas mais fragmentadas”. E apontou a Rússia e os países da América Latina como mercados onde o grupo precisa de afinar estratégias. Um dos problemas, referiu, é a proliferação de modelos. “Em alguns mercados é possível ter perdas apesar de termos 28 modelos à venda.” Já os EUA são um mercado que “faz sentido”, acrescentou ainda o executivo, mas apenas “quando se tem dinheiro”.

Outra estratégia, já anunciada, é a criação de uma nova marca autónoma a partir da linha DS, da Citroën. Questionado sobre um dos problemas clássicos do grupo, a separação de duas marcas que nem sempre são distintas, Tavares classificou a Peugeot como “o rigor dos alemães, com a paixão e a sofisticação latina” e a Citroën como uma marca de “conforto e inovação útil”. Já a DS, a gama que neste momento agrega os modelos de segmento mais alto da Citroën, terá “o glamour francês”.

Tavares espera que estas características europeias vinguem no cada vez mais importante mercado chinês, onde no ano passado se venderam praticamente 21 milhões de carros. Aqui, a empresa francesa conta com a parceria da fabricante local Dongfeng, que no mês passado se tornou um dos três grandes accionistas do grupo. A Dongfeng tem uma participação de cerca de 14% na PSA, obtida na sequência de uma operação de aumento de capital, que deu outros 14% ao Estado francês e reduziu para outro tanto a quota da família Peugeot. Ao todo, a operação pôs nos bolsos da companhia mais três mil milhões de euros.

A opção pela entrada de novo capital e por uma estrutura tripartida não foi consensual dentro dos históricos donos do grupo. O futuro CEO afirmou que não terá problemas em ter o Estado como accionista e lembrou que essa é uma realidade com a qual já viveu na Renault. Num discurso confiante, classificou a entrada do novo capital como “uma nova oportunidade”, embora reconhecendo que se tratou de “um imperativo”.

Por agora, a Peugeot teve um bom arranque para 2014: o modelo 308 foi considerado em Genebra o Carro Europeu do Ano, distinção atribuída por um painel de jornalistas especializados.

O jornalista viajou a convite da PSA Peugeot Citroën

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