Agricultura fecha zona agrária de Silves, principal centro de produção de citrinos do país
A falta de pessoal justificou a transferência dos agrónomos do campo para cidade. O apoio aos agricultores que produzem laranjas faz-se agora a partir de Portimão, terra da pesca da sardinha.
O director regional de Agricultura do Algarve, Fernando Severino, justifica a medida com a falta de pessoal, mas garante que “não vai faltar o apoio aos agricultores”. O que está previsto é que o serviço possa ter continuidade, mas noutros moldes, através de parcerias entre o ministério da Agricultura e do Mar e as autarquias. A suspensão do atendimento regular aos agricultores da região abrange, além de Silves, Aljezur, Alcoutim, Lagos e Monchique.
“Não dá para entender uma medida destas”, prossegue António Prata, acrescentando que, aos 85 anos de idade, ainda é ele, sozinho, quem trata do pomar de citrinos e abacates numa área de quatro hectares. A vizinha, Rogélia Santos, dispara no mesmo sentido: “Estão a acabar com tudo - o que será que mais nos vai acontecer?”, pergunta. As interrogações sucedem-se a cada passo, mas poucos encontram resposta ou justificação aparente.
“Parece-me que eles [os funcionários da zona agrária] já deve haver quase um mês que se foram embora”, observa Gregório Patrício, um reformado da construção civil que contesta o encerramento dos serviços públicos de proximidade, embora não fosse utente assiduo. De agricultura, diz, não perceb2 grande coisa: só cultivo hortaliças no quintal”.
A região algarvia produz uma média de 270 mil toneladas de citrinos, o que equivale a cerca de 80% da colheita nacional, e o concelho de Silves é aquele que concentra a maior área de cultivo. “Vinha aqui gente até de São Marcos da Serra”, diz Rogélia Santos, evocando a extensão do território que abrange, também, uma grande área de serra.
A Federação Regional do Algarve do PS divulgou um comunicado criticando a decisão, por considerar reveladora de “um profundo desprezo pelos empresários do sector agrícola, prejudicando gravemente os concelhos mais afastados dos serviços desconcentrados de Faro”.
O agricultor João José, de Enxerim, desvaloriza os protestos: “Já pouco se fazia ali, só lá estavam duas funcionárias”. Sempre que surgia alguma questão mais técnica, “tinha de se ir a Portimão, e mesmo aí as coisas não funcionam como deviam”, prossegue. "Quis fazer um projecto para a produção de mel mas não me safava se não pagasse a quem fizesse o estudo, fora dos serviços da agricultura”, exemplifica.
Laranjas espanholas no Algarve
O director regional de agricultura do Algarve recorre à lei que impede a contratação de novos colaboradores para justificar a suspensão e redução dos serviços de apoio descentralizado. “Os funcionários que se reformaram não foram substituídos”, enfatiza.
Porém, Fernando Severino assegura que os agrónomos não se vão afastar do campo. “Estamos a fazer parcerias com os municípios e associações de agricultores para continuar a prestar o apoio de proximidade”, adianta.
Mas a redução do número de funcionários é um facto indesmentível. A delegação da direcção regional de agricultura em Portimão, que servia toda a zona do Barlavento, chegou a ter mais de duas dezenas de colaboradores mas “dentro em breve ficarão apenas com cinco ou seis”, diz .
Ao longo da estrada entre Silves a Messines, os produtores vão ao encontro dos consumidores. Marina Calado vende laranjas e hortaliças, numa tenda improvisada. “Só precisei de ir uma vez a Zona Agrária de Enxerim (Silves) para preencher os papéis para o cartão de agricultora, foram muito simpáticos”, comenta, um pouco indiferente ao encerramento da estrutura algarvia. Enquanto isso, o condutor de um camião de transporte de materiais de construção, vindo de Santarém, pára para comprar laranjas. “Tenho clientes certos”, conta, orgulhosa, a agricultora.