Governo vai comprar dois Canadair e equipamento de 11 milhões para bombeiros
Ministro Miguel Macedo, ouvido no Parlamento sobre incêndios florestais, diz que as condições de treino dos bombeiros são más.
“O país precisa de ter no seu dispositivo dois Canadair. É difícil encontrar esses meios para alugar e a preços razoáveis. Como país decidimos não comprar Canadairs e comprámos helicópteros pesados. A verdade é que seis anos depois há um consenso entre todos de que precisamos de uma parelha de Canadairs”, disse Miguel Macedo, no grupo de trabalho para a Análise da Problemática dos Incêndios Florestais, constituído na Assembleia da República.
A aquisição de cada avião obrigará a um investimento de 37 milhões de dólares, de acordo com Macedo, que salientou ainda que poderá “demorar mais de um ano” até que Portugal tenha os aparelhos disponíveis no combate a fogos florestais.
Esta não é a primeira vez que um governante anuncia a intenção de comprar aviões anfíbios, como os Canadair, mas até agora nenhum concretizou esse projecto. O Governo liderado por José Sócrates optou por comprar seis helicópteros pesados, os Kamov, e quatro ligeiros, os Ecureuil, para a primeira frota de meios aéreos do Estado, actualmente reduzida a oito aparelhos (um ligeiro despenhou-se em 2007 e um pesado está inoperacional há mais de um ano após um acidente em Ourém). Estes e outros problemas levaram o Governo a pedir o empréstimo de meios aéreos de combate a incêndios a vários países da União Europeia, no Verão passado.
Miguel Macedo defendeu ainda que a rede nacional de postos de vigia para detecção de incêndios, actualmente da responsabilidade da GNR, deve passar a ser gerida pelas autarquias locais.
O ministro alertou ainda para os concursos internacionais em marcha no valor total de 11 milhões de euros – tanto das comunidades intermunicipais como da administração central – para a aquisição do equipamento individual para os bombeiros.
“Temos uma parte enorme do dispositivo que não tem os equipamentos para fogos florestais. Temos nisso atrasos enormes”, apontou o ministro que espera também ter concluído “até ao Verão” o investimento para a aquisição de um “lote grande de rádios SIRESP” para as corporações.
"Longe das condições adequadas"
Durante a audição, o ministro deixou bem claro que o treino que actualmente é ministrado aos bombeiros é insuficiente. “Estamos muito longe de ter as condições adequadas, enquanto país. Isto para não dizer mais. Na parte do treino temos um mundo todo para fazer e isso não pode deixar de ter consequências no terreno. Não investimos nisto como país nas últimas décadas como devíamos."
Neste ponto, por isso, Macedo salientou o processo de “reconfiguração” da formação na Escola Nacional de Bombeiros e defendeu a aproximação física da formação que é dada às corporações de bombeiros. “Temos 22 delegações [da escola] que estão subaproveitadas. Temos de levar a escola para junto dos bombeiros”, disse. Esta é uma antiga reivindicação dos bombeiros, que se queixam da excessiva centralização de cursos em Lisboa.
Quanto ao financiamento das corporações de bombeiros, Macedo salientou a necessidade de mudar o paradigma actual, insistindo, por exemplo, na critica às concessionárias de auto-estradas, responsáveis pelo pagamento do socorro nas suas vias, que “pagam pouco aos bombeiros”.
O ministro alertou ainda para a necessidade do “reforço dos mecanismos de fiscalização dos dinheiros públicos” nas corporações de bombeiros. “Em alguns casos”, disse, “houve má gestão ou mesmo crime”.
Quanto à passagem da rede de postos de vigia para as autarquias, Miguel Macedo adiantou que a GNR ainda vai assumir essa responsabilidade este ano.
"Uma fórmula para esta matéria passaria pela contratualização com os municípios", disse Miguel Macedo, adiantando que o investimento passa por "meios alternativos de vigilância". Para tal, e do ponto de vista tecnológico, a GNR esta a estudar um conjunto de mecanismos nesta área, salientou.
Os 231 postos de vigia da GNR funcionam durante o verão e, nesses meses, costumam dar emprego a perto de mil pessoas. Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), Manuel Machado, reagiu, garantindo: “O Governo não apresentou qualquer proposta à ANMP sobre esta matéria.”