Seguro propõe um "novo desenvolvimento" assente em clusters
Líder do PS falou na Saúde, na Agricultura e em Sines, depois do grupo parlamentar ter ouvido nas suas jornadas dois economistas muito diferentes mas que concordavam na importância do crescimento ecenómico.
As Europeias também pairaram pelas intervenções do secretário-geral e do líder parlamentar, no rescaldo do anúncio do nome de Francisco Assis para cabeça de lista na corrida a Bruxelas. Em relação à qual Seguro ensaiou um discurso de campanha, colocando o primeiro-ministro como apenas mais um "da família política ideológica a que este Governo [do PSD/CDS] pertence na Europa". Para tentar incutir nos portugueses que a culpa da austeridade repousava nos liberais que chegavam até ao "topo de todas as instituições europeias".
Se para a Europa as propostas apresentadas por Seguro não trouxeram novidades, já para o desenvolvimento económico avançou com um novo rumo discursivo. Foram três os exemplos a que o líder socialista recorreu. Dois deles que ainda não tinha desenvolvido em anteriores intervenções. Na Saúde, na agricultura e no sector portuário. Áreas onde entendia que se podiam fazer “alianças entre o parco investimento público e a capacidade de empreender com os portugueses”.
E interligando mesmo algumas áreas. Propôs “criar um cluster na Saúde aproveitando os recursos do nosso mar”, antes de lembrar o sucesso do investimento feito no Alqueva. Que havia permitido montar um perímetro de rega capaz de fazer chegar água, no Alentejo, “onde nunca tinha chegado uma gota”. E cujo resultado se via agora na produção recorde de azeite.
E retomou a ideia de Sines enquanto plataforma logística, mas também como local onde se poderiam “instalar empresas de transformação de matérias-primas” capazes de produzir “produtos acabados” para depois distribuir pela Europa.
A aposta nos clusters não é uma novidade em termos de política económica socialista. Nos anteriores Governos de José Sócrates, estes eram vistos como uma ferramenta para a “promoção da competitividade”, recordou o secretário-nacional Eurico Dias. Para criar “pólos de competitividade” num “conjunto de sectores onde estão muito presentes as pequenas e médias empresas”.
Seguro tem assumido desde cedo essa política como uma estratégia a aplicar nos mais variados sectores. Em Novembro de 2012 já se dava ao trabalho, por exemplo, de ir discutir “a importância do desenvolvimento do cluster das indústrias criativas na Região Norte” a Vila Nova da Cerveira.
A sua moção ao último Congresso que o reelegeu secretário-geral, há um ano, definia como objectivo a criação de clusters nas energias renováveis, no mar, no sector agrícola e agro-alimentar, na floresta, no turismo, e no “Sistema Científico e Tecnológico”.
Foi com a apresentação das propostas de Seguro que se percebeu a razão do convite para ouvir Silva Lopes e Paes Mamede nas jornadas. Dois economistas que partiam de leituras diametralmente opostas em muitas questões mas que convergiam precisamente na questão do crescimento económico.
Paes Mamede, que foi um dos signatários do Movimento 3D, defendeu a negociação da dívida pública, Silva Lopes considerou esse passo só “ia fazer com que a nossa situação fosse ainda pior do que já é”, por exemplo.
Mas ambos consideraram que “a coisa mais importante” que um Governo podia empenhar-se era no crescimento económico. Paes Mamede – que contactou expressamente o PÚBLICO depois de Francisco Assis ter assumido que gostava de o ver a colaborar na preparação do programa para as europeias, para deixar claro que não estava disponível para fazer parte da lista às europeias ou sequer desenhar um projecto eleitoral - defendeu “políticas para maximizar a procura da produção nacional” já depois de ter identificado como uma das fragilidades portuguesas a existência de uma “estrutura produtiva ainda mais frágil” nos últimos anos.
Já Silva Lopes, ex-governador do Banco de Portugal sustentou – depois de uma intervenção pejada de críticas a anteriores governações socialistas – que era imprescindível um partido como o PS estudar formas de se conseguir um crescimento acima dos 2,5 por cento mas “assente nos bens transaccionáveis”.
E explicou como: com um “tratamento discriminatório a favor” desse sector, com mais crédito e benefícios fiscais para as PME’s e a aposta no “agrupamento” de empresas em sectores chave. Fazendo depender os benefícios estatais acima referidos a essa mesma disponibilidade.