No meio da revolução, Ucrânia tenta evitar a falência

Novo Governo diz que precisa de 25.000 milhões de euros de financiamento do exterior para evitar uma falência. Líderes europeus garantem que estão dispostos a ajudar.

O problema financeiro da Ucrânia está longe de ter começado com os protestos na rua. Com uma economia incapaz de encontrar forma de modernizar a sua indústria e apresentando sinais sérios de perda de competitividade, desde 2012 que Kiev negociava com o Fundo Monetário Internacional e com a União Europeia a concretização de um empréstimo que reduzisse a pressão crescente que o país vinha a sentir nos mercados internacionais.

O banco central tentou, com a utilização das suas divisas, evitar uma queda acentuada da divisa ucraniana, mas foi progressivamente obrigado a ceder, desvalorizando a moeda. Há um ano, com um dólar conseguiam comprar-se 8,05 hryvnias, agora compram-se quase 9 hryvnias.

E pelo caminho foram sendo gastas as reservas cambiais do banco central. No final de Janeiro eram de 17.800 milhões de dólares (cerca de 13.000 milhões de euros), um valor equivalente a dois meses de importações do país. O banco Barclays calcula, numa nota de research recentemente publicada, que as reservas podem chegar ao final deste ano bem abaixo dos 10.000 milhões de dólares (cerca de 7200 milhões de euros), o que significa que o país está perante a ameaça de um colapso financeiro.

 Depois, há o financiamento que o Estado tem de assegurar, seja para pagar dívida, seja para fazer face às despesas do dia a dia. De acordo com as contas da Standard & Poor’s, são 13.000 milhões de dólares que é preciso pagar. As taxas de juro subiram para valores acima dos 10% no auge da crise. Esta segunda-feira caíram para perto de 9%.

Em Dezembro, depois de intensas negociações, o FMI e a UE diziam-se prontas a disponibilizar 15.000 milhões de euros, caso a Ucrânia cumprisse o programa de reformas que tinha sido exigido e avançasse para o tratado comercial com a Europa. O acordo acabou por não ir para a frente – o que acabou por desencadear os protestos – e foi a Rússia a prometer um apoio financeiro também de 15.000 milhões.

Todos estes números, contudo, são, no actual cenário de incerteza política, social e económica, muito volúveis. O ministro das Finanças, Iuriy Kolobov, afirmou esta segunda-feira que o país precisava agora de um pacote de ajuda financeira de 35.000 milhões de dólares (cerca de 25.000 milhões de euros).

A única certeza que há é que, caso se concretize a hipótese provável de a Rússia se recusar a entregar o empréstimo ao novo Governo que não reconhece, a Ucrânia precisa de encontrar outra fonte de financiamento, e rapidamente. Os líderes europeus têm feito questão de afirmar que, assim que um governo esteja formado, o empréstimo pode ser preparado. Mas é preciso ainda que haja um acerto das condições em que o financiamento vai ser feito e que instituições (para além do FMI) poderão participar. Uma estabilização da situação política é vista como essencial para que se possa avançar para a ajuda financeira em tempo útil para evitar o default.

Para a Ucrânia, este apoio seria apenas uma boa notícia no meio de um mar de problemas económicos estruturais que o país mostrou, nos últimos anos, pouca capacidade para resolver. E há ainda o problema do gás, o trunfo mais forte que a Rússia tem para jogar na relação com o seu vizinho. O fornecimento de gás tem sido feito a preços abaixo do valor de mercado, mas já por duas vezes, nos últimos dois anos, a Rússia ameaçou com o fecho da torneira. A acontecer, poderia ser a machadada final na sustentabilidade da economia ucraniana.

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