Investigadora denuncia nove execuções sumárias na Guiné Equatorial nas últimas duas semanas

A família do Presidente Obiang é acusada de, em 2012, ter comprado um prémio na Unesco.

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A Guiné Equatorial é liderada desde 1979 por Teodoro Obiang Thomas Mukoya/AFP

“Sabemos que a pena de morte não foi abolida ainda na Guiné Equatorial e não sabemos se será abolida. Sabemos que, há duas semanas, foram executadas nove pessoas na Guiné Equatorial”, disse à Lusa a investigadora do Centro de Estudos Africanos do ISCTE, que já realizou um estudo sobre o ciberactivismo na Guiné Equatorial, publicado em 2011.

De acordo com a especialista, estas pessoas foram “sumariamente executadas sem direito a uma apelação”.

A suspensão da pena de morte, que, segundo anunciaram na quinta-feira em Maputo as autoridades da Guiné Equatorial, está em vigor há quatro dias, conclui o roteiro exigido pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para a adesão do país ao bloco lusófono, pedida oficialmente em 2010.

Na quinta-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da CPLP recomendaram a adesão da Guiné Equatorial ao bloco lusófono. O país liderado por Teodoro Obiang é observador da organização desde 2006, mas a adesão como membro pleno foi adiada nas cimeiras de Luanda e de Maputo, por se considerar que o país não cumpria os requisitos necessários.

Uma moratória sobre a pena de morte era uma das condições, a par da promoção do uso da língua portuguesa, para a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, estabelecidas pelo bloco lusófono na cimeira de Luanda, em 2010.

“Não existe ainda o ensino de português na Guiné Equatorial, apesar de se falar repetidamente dos esforços do país (neste sentido) para uma adesão à CPLP”, referiu a investigadora do ISCTE.

“Ultrapassando também o facto de os territórios de Annobón e da atual ilha de Bioko (ex-Fernando Pó) terem sido possessões portuguesas registadas no direito colonial, a questão dos direitos humanos e da pena de morte são fundamentais”, disse, referindo as “enormes falhas” no respeito pelos direitos humanos pelo regime de Teodoro Obiang.

Ana Lúcia Sá afirma que um grupo de activistas “pediu autorização ao Ministério do Interior de Malabo para fazer uma reunião e não lhes foi dada a autorização, que seria realizada a 23 de Fevereiro. Entre os activistas, está o escritor Juan Tomás Ávila Laurel, que há dois anos fez uma greve de fome para chamar a atenção para a violação dos direitos humanos e as restrições aos direitos políticos e de expressão na Guiné Equatorial.

Seria uma reunião, de acordo com a investigadora, “da sociedade civil, não só de partidos políticos” para traçar “linhas estratégicas de uma oposição ao regime de Teodoro Obiang”. A investigadora considerou ainda que a entrada da Guiné Equatorial na CPLP “mancha a reputação” deste bloco. “Se a Guiné Equatorial entrar para a CPLP, é a prova de que o dinheiro da família Obiang compra, de facto, tudo”, argumentou.

Ana Lúcia Sá disse que o dinheiro da família Obiang “comprou [o patrocínio de ] um prémio na UNESCO” (atribuído em 2012, com muita polémica) e também referiu as notícias sobre o possível investimento da Guiné Equatorial no Banif. No início de Fevereiro, o Banif revelou que estabeleceu um memorando de entendimento com a República da Guiné Equatorial visando a colaboração entre as partes no sector bancário, que poderá levar à entrada de uma empresa daquele país africano no capital do banco.

“No Brasil, foi negado um pedido de habeas corpus ao vice-presidente da Guiné Equatorial, filho do ditador Obiang (Teodoro Nguema Obiang Mangue), para ser extraditado para França”, exemplificou ainda. O Supremo Tribunal Federal brasileiro negou esta semana um habeas corpus ao filho de Obiang, que pretendia impedir a expedição de pedido de prisão preventiva para fins de extradição. O pedido de extradição foi feito pela França, onde Teodorin (como é conhecido o filho de Obiang) é acusado de desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e abuso de confiança.

“A justiça brasileira portou-se de acordo com as convenções internacionais assinadas pelo Brasil”, considerou a investigadora. “Na perspetiva do que ouço dos cidadãos da Guiné Equatorial, como é possível a CPLP permitir entrar o regime de Teodoro Obiang” enquanto o país vive na miséria absoluta, questionou, por fim, a investigadora.