CPLP podia ser duas vezes mais rica se apostasse a sério na economia

Economia dos países da CPLP vale 1,8 biliões de euros. Especialistas pedem mais comunicação entre os países para juntar a oferta e a procura. Empresários dizem que reuniões de políticos são pouco produtivas.

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Há muito a fazer no relacionamento comercial Paulo Ricca

Um dia depois de os oito ministros das Finanças dos países que falam português se terem sentado à mesma mesa, em Maputo, para debater a crise financeira mundial e a gestão sustentável dos recursos naturais, os especialistas na economia lusófona alertam que, do ponto de vista de promoção empresarial e das relações comerciais entre os Estados, há muito a fazer, para benefício de todos.

“A riqueza no espaço lusófono pode passar de quatro para 10% do PIB mundial numa década e meia, se os países se juntarem e apostarem numa verdadeira comunidade económica, criarem mais-valias sobre os abundantes recursos naturais e usarem a abençoada separação geoestratégica" que os espalha por quatro continentes, afirma  o presidente da Confederação Empresarial da CPLP, Salimo Abdula, que reclama uma política diplomática mais virada para a economia.

"Temos um diamante na mão e ainda não o conseguimos lapidar, mas quando o fizermos vai ser brilhante e uma coisa belíssima", reconhece a directora-geral da CPLP, Georgina Mello, referindo-se ao potencial de uma área que representa 4% da riqueza mundial e que junta mais de 250 milhões de pessoas, mas que ainda enfrenta dificuldades nas trocas comerciais entre os seus membros, por exemplo ao nível do financiamento e das barreiras ao comércio internacional.

"Há bons projectos, mas não têm acesso a financiamento que existe noutros países [da CPLP], e depois temos abundância de operadores de mercado e tecnológicos nalguns países, ao mesmo tempo que temos carências muito graves noutros", diz a responsável, sublinhando que é preciso mais comunicação entre os países, para que um saiba que aquilo que tem é aquilo que o outro está à procura.

"A comunicação entre a procura de um país e a oferta do outro é fundamental, porque há necessidades que são gritantes nuns sítios e noutro país que nem sabe disto há excedentes nessa área; é preciso é comunicarem uns com os outros", diz Georgina Mello.

A livre circulação de pessoas, bens, serviços e capital é, aliás, um tema incontornável quando se fala com o presidente da Confederação Empresarial da CPLP. Salimo Abdula não tem dúvidas de que esse é o caminho, até porque, já antecipando as críticas sobre a dificuldade de harmonizar regras rígidas como as da União Europeia ou do Mercosul sobre a abertura de portas, afirma que a livre circulação no contexto da CPLP “é um desafio, não é um problema, e só depende da sensibilidade política”.

Os ministros que estiveram esta sexta-feira em Maputo têm, por isso, um papel central, continua Georgina Mello, porque só eles podem desbloquear as dificuldades de compatibilização da CPLP com as regras dos sistemas regionais, dos quais nenhum país quer abdicar: "Ninguém quer sair da região económica em que está inserido, é preciso é criar margem para construir esta comunidade paralela, que traz grandes oportunidades, porque, se se conseguir conciliar os dois espaços, cria-se uma ponte que permite às empresas dos países da CPLP aceder a este espaço regional que não seria o seu espaço próprio, agarrando um potencial que se poderá converter em realidade, se se conseguir criar estes mecanismos.”

CPLP “estrela mundial” em dez anos
A CPLP é um organismo mais político do que económico, mas podia evoluir para uma verdadeira comunidade de criação de riqueza, se os recursos fossem mais bem aproveitados e se houvesse uma aposta política assertiva.

Em entrevista ao PÚBLICO por ocasião de terceira reunião dos responsáveis das Finanças, desta vez em Maputo, Salimo Abdula mostrou-se esperançado na aposta económica destes países: "Nada é impossível, se queremos uma CPLP forte e desafiante perante este ambiente de globalização."

Abdula argumenta: "Temos condições, fomos abençoados, temos recursos naturais de grande dimensão descobertos nos últimos dez anos, temos mão-de-obra jovem, e, se nos posicionarmos como deve ser, levando a tecnologia necessária para dar mais-valias às nossas riquezas naturais onde elas existem, podemos transformar a CPLP numa estrela a nível mundial, fazendo o nosso PIB subir para 10% do total mundial daqui a dez ou 15 anos."

“Reuniões de ministros são pouco produtivas”
Questionado sobre a razão de os membros da CPLP não criarem condições especiais para favorecer os negócios entre as empresas lusófonas, Abdula considerou que "há pouco trabalho de sensibilização junto da classe política" e criticou as reuniões que os governantes destes países levam a cabo sem resultados práticos.

"As reuniões de ministros têm sido pouco produtivas, não há resultados práticos, porque não têm ouvido a parte empresarial; é preciso ações de boa vontade, o empenho das instituições que representam o sector privado para transmitir com segurança estas ideias e até contribuir com projectos e ideias que possam ultrapassar as dificuldades", acrescentou o responsável.

"Esperamos que esta reunião, na qual não participamos, possa começar a preparar uma integração mais competitiva da CPLP no comércio internacional, tirando partido da complexidade e multidisciplinaridade da CPLP, para podermos estar em vários mercados, e que comece a pensar numa política comercial comum que faz destes espaços mercados livres", disse Abdula.

Os ministros das Finanças, conclui, "enquanto organismos-chave, devem servir como parceiros para o rompimento de barreiras legais e aduaneiras que impedem a livre circulação de bens e mercadorias, e é neste contexto que a CE-CPLP espera que esta reunião possa debater este assunto para melhor desenvolver os negócios dentro e além das fronteiras da CPLP".

A nova directora-geral da CPLP, que defende uma vertente mais económica para esta comunidade de países com a mesma língua, advoga a criação de "um conjunto de mecanismos para suportar as intenções dos Estados" e assume que uma das suas tarefas é precisamente "criar mecanismos que facilitem a criação de propostas que dêem corpo e consistência a um tecido económico ainda ténue, mas que já existe".

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