Restauro em Oliveira do Hospital "não cumpre" critérios
A Associação Profissional de Conservadores-Restauradores de Portugal (ARP) considerou, numa carta aberta, que a intervenção efectuada no Santuário da Nossa Senhora das Preces, em Oliveira do Hospital, "não cumpre claramente os critérios fundamentais" do restauro.
No documento, o presidente da associação afirma que o restauro "é contra os princípios essenciais do código deontológico que rege a profissão".
As intervenções "em Património Cultural, apelidadas de conservação e restauro, que desrespeitam o carácter de originalidade do bem patrimonial" acontecem, na óptica de Rui Pedro Borges, por serem "executadas por profissionais não qualificados".
A ARP defendeu na carta aberta que a solução para este tipo de situações prende-se "com a necessidade de reconhecer a importância do conservador-restaurador como profissional que presta um serviço público".
"No panorama actual, assiste-se à proliferação de cursos e acções de formação ministrados, por vezes, por formadores que não possuem a formação académica exigida", explanou.
Para o presidente da associação, o caso de Oliveira de Hospital é "extremamente grave", mas "não é único", procurando alertar para "os riscos das intervenções" quando "não são executadas por técnicos devidamente qualificados".
"O resultado inevitável é a perda, por vezes irreversível, do nosso património", salientou, na mesma carta aberta.
A intervenção na freguesia de Aldeia das Dez, concelho de Oliveira do Hospital, foi desenvolvida em 2007, em conjunto com alunos de uma universidade sénior de Coimbra, tendo sido alvo de críticas por parte de restauradores, mas também por parte do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja que classificou o restauro de "criminoso, danoso e prejudicial".
"Não estamos a falar de objectos musealizados, mas de obras de arte sacra afectas ao culto que foram tratadas como bonecos e não como objectos de arte sacra como deveria de ser", afirmou à agência Lusa Sandra Costa Saldanha, directora do secretariado.
À Lusa, Miguel Vieira Duque sublinhou que, apesar de os alunos terem participado em todas as fases da restauração, o trabalho é da sua responsabilidade.
"O resultado final enche-me de orgulho", disse, informando que trabalha no ramo do restauro "há 22 anos" e que "nunca" tinha estado numa situação semelhante.